sexta-feira

"os coiotes não sabem o que é a poesia, eles uivam" - chacal em bh

na próxima quarta, dia 05 de setembro às 20h, chacal estará em bh para o lançamento do belvedere. livraria scriptum - r. fernandes tourinho, 99. savassi

andityas soares de moura

meu amigo andityas acaba de publicar este poema na revista portuguesa oficina de poesia e me mandou por email. também quero compartilhá-lo com vocês.


Língua de fogo do não

Não se pode escrever o poema.

Os tempos são duros, inflexíveis.
Taciturnos até. Dão “bons dias”
por obrigação e recato.

Não se pode sequer ler o poema.

As pessoas andam cabisbaixas, Riem à toa – como patetas – e morrem. Morrem como quem nunca quis nada.

Não se pode nem mesmo pensar o poema.

É proibido. É indecente o poema.

O poema não produz dividendos. Não distribui lucros. Não faz dormir melhor. O poema não sorri nas campanhas eleitorais.

O poema não gosta de telenovela e nem está preocupado em como estacionar no shopping-center.

O poema não quer ter filhos, se casar e planejar férias anuais. Não tem e nem faz economias.

O poema não deixa e não anota recados.

O poema não investe em ações, não paga imposto de renda e não sabe como se portar à mesa com dignidade e fineza.

O poema não acredita na Previdência Social.

O poema não toma banho todos os dias. Não paga a escola das crianças. Sequer ajuda a financiar os cursos de inglês de que elas tanto precisam para subir na vida.

O poema não tem cartão de crédito e nem religião. Jamais freqüenta bailes de debutantes e nunca foi visto nas festas de Natal da empresa.
O poema não vai ao barzinho da moda.

O poema nunca está no escritório.

O poema não faz visitas sociais. Não tem celular e não confia nas urnas eletrônicas. O poema não está deprimido.

O poema falta às sessões ordinárias da Academia de Letras.

O poema não come todas.

O poema não é tributável. Nem atóxico, inodoro ou inquebrável.

O poema não sabe ficar quietinho.

O poema não pode ser preso.

Nem torturado, morto, estuprado, sequestrado, mutilado, roubado, operado, sodomizado, reeducado, dopado, humilhado, bombardeado, conquistado, saqueado, raptado, ameaçado, multado, eletrocutado, queimado, furado, cegado, crucificado, desmembrado, enforcado, guilhotinado, pisado, garroteado, picado, partido, moído, quebrado, cortado, empalado, frito, cozido, assado, esquecido, vencido, lavado, desintoxicado, trucidado, massacrado, escravizado, humanizado, podado, censurado, amarrado, enganado, corrompido, comprado, convencido, julgado, condenado, apenado, difamado, injuriado, caluniado, desacreditado, distorcido, adulterado, anulado ou apagado.

O poema também não pode ser calado.

O poema é um comilão, um vagabundo, um inútil mesmo.

Isso é o que ele é.

....................
Infame ter de se concentrar para sentir
o pejo de um mundo sem poesia.

quarta-feira

john cage em belo horizonte

amanhã, dia 30 de agosto de 2007. às 19h no multiespaço (anexo ao museu das telecomunicações) - avenida afonso pena 4.001. entrada frança (75 lugares). vá ao jaguadarte [j] para saber mais detalhes.

sexta-feira

quarta-feira

lançamento do jornal dez faces

no dia 24 de agosto, acontece o lançamento do jornal dez faces, editado por marcelo dolabela, camilo lara, luciana tonelli e cia. e foi a convite de luciana que colaborei para este número 10 com um poema meu. para quem não puder ler o convite acima, o evento acontece no matriz (terminal turístico jk - bhmg) a partir das 20h. a partir das 22h tem a apresentação das bandas patife band, ballet, herói do mal, los borrachos e caveira, my friend. apareçam. não é todo dia que rola poesia com rock'n roll nesta cidade.

ballad of skeletons - uma saudação a allen ginsberg


(música de paul mc cartney e vídeo de gus van sant)

domingo

não macule a minha faca

"quem com letícia féres, confere e será querido".
imperdível. nas terças poéticas: jardins internos do palácio das artes. hilda hilst homenageando letícia féres. letícia féres homenageando hilda hilst. poesia em alta voltagem. samplermusic & videocolagem. julius. frederico pessoa. poesia hoje. queria conseguir dizer mais. mas precisa? vá lá e comente depois aqui comigo, vai.

segunda-feira

à amada esquiva

dessem-nos tempo e espaço afora
não fora crime essa esquivez, senhora.
sentar-nos-íamos tranqüilos
a figurar de modos mil os
nossos dias de amor. eu com as águas
do humber choraria minhas mágoas;
tu podias colher rubis à margem
do ganges. que eu me declarasse
dez anos antes do dilúvio! teus
nãos voltar-me-iam a face
até a conversão dos judeus.
meu amor vegetal crescendo vasto,
mais vasto que os impérios, e mais lento,
mil anos para contemplar-te a testa
e os olhos levaria. mais duzentos
para adorar cada peito,
e trinta mil para o resto.
um século para cada parte,
o último para o coração tomar-te.
pois, dama, vales tudo o que ofereço,
nem te amaria por mais baixo preço.
mas ao meu dorso eu ouço o alado
carro do tempo, perto, perto,
e adiante há apenas o deserto
sem fim da eternidade.

tua beleza murchará mais tarde,
teus frios mármores não soarão
com ecos do meu canto: então
os vermes hão de pôr à prova
essa comprida virgindade,
tua fina honra convertendo em pó,
e em cinzas meu desejo. a cova
é ótimo e íntimo recanto. só
que aos amantes não serve de alcova.
agora, enquanto pousa a cor
da juventude em ti como na flor
o orvalho, enquanto por
todo poro teu a alma transpira
com urgentes fogos,
entreguemo-nos aos jogos
do amor e, amantes aves de rapina,
antes de um golpe devoremos nosso tempo
que enlagueçamos em seu lento
queixo. enrolemos nosso alento
e suavidade numa só esfera.
e rasguemos prazeres como feras
pelos portões férreos da vida.
assim, se não sustamos nosso sol,
ao menos o incitamos à corrida.


é do andrew marvell (1621 – 1678) to his coy mistress,
e a tradução é de augusto de campos (verso, reverso, controverso. ed. perspectiva, 1978)

sexta-feira

não macule a minha faca - letícia feres e hilda hilst no terças poéticas

e vem aí, letícia feres na companhia de julius e frederico pessoa no terças poéticas. em breve, coloco mais umas informações bombásticas sobre a navalhante apresentação dos meus amigos. por enquanto, quem quiser mais informações, é só ir lá no onde andará dulce veiga.

tonico mercador homenageia allen ginsberg

o poeta tonico mercador tem um gosto um pouco parecido com o meu. lembro-me que há alguns anos atrás, eu me interessei pela poesia de julio cortázar e comecei a traduzi-lo. alguns meses depois de começar a empreitada, encontro na revista palavra, a sua tradução de alguns poemas do cronópio sobre o maio de 1968. coincidências.
recentemente, tenho estado muito afim de fazer uma homenagem a allen ginsberg. especialmente porque este ano completaram dez anos da morte dele. um cara genial que não pode ser esquecido. e eis que o tonico mercador se prepara para homenageá-lo na apresentação na próxima terça-poética. provavelmente vai apresentar o trabalho que vem fazendo há algum tempo: declamação do poema "uivo" junto a poemas de sua autoria.

terça-feira, dia 14 de agosto de 2007
às 18h30, como de costume.
nos jardins internos do palácio das artes.

evohé! saravá! boa sorte tonico. uma pena que não poderei estar lá. infelizmente estarei dando uma aula no mesmo horário. mas fico torcendo para a dose se repetir em breve.

terça-feira

quem fala de mim tem paixão

clique na imagem para visualizar melhor. o poema é de waly salomão, a música é de jards macalé.

segunda-feira

rodrigo chorinho

faço parte de uma geração privilegiada. em belo horizonte, convivo com alguns dos melhores músicos do país. aqui ainda não se tornou um grande pólo como difusão de discos, mas os artistas vivem sendo exportados. kristoff silva, érika machado, vítor santana, regina spósito, dudu nicácio, makely ka e maysa moura, marina machado, o sérgio pererê e o grupo tambolelê. a lista não acaba.

mas hoje eu quero falar de rodrigo torino. fui ontem ver a apresentação que ele fez lá no teatro francisco nunes. no programa, chorinho. principalmente composições dele. mas também: guinga, joão gilberto, maurício carrilho e baden powell.

rodrigo foi o ganhador do prêmio bdmg jovens instrumentistas. faz o curso do mestre maurício carrilho no rio de janeiro, onde aprende a fazer um choro moderno, diferente daquela coisa folclórica que (embora linda) sempre acaba ficando.

o que me pareceu surpreendente foi que, aquele músico tímido que conheci há mais de dez anos se tornou agora um artista completo. um compositor pronto, com senso de grupo e boa regência de toda a música no ato de tocar os arranjos feitos pelo grupo (um amigo me dizia que música só é música quando tocada ao vivo e a cores) – o que se revela principalmente nas composições dele. músicas como “duas saudades” trazem todo um gostinho brasileiro irmão de grandes mestres. há também outras composições como “em três”, onde os acordes delicadamente dissonantes se combinam com o compasso ímpar.

quando o assunto é interpretar, o cara não deixa para menos. me delicio em dizer que peças de baden, guinga e joão gilberto não são as mais bonitas do repertório. mas nelas também se revelam os bons instrumentistas da banda que faço questão de nomear aqui: dudu braga (cavaquinho), alaécio martins (trombone), nilton moreira (flauta), ramon braga (bateria e percussão), a participação especial do baixista italiano tommaso montagnanni e o próprio rodrigo torino (violão de sete cordas). vão dizer que sou suspeito para falar? então tome uma palhinha no my space:

www.myspace.com/rodrigotorino

what can i hold you with? (um poema inglês de jorge luis borges)

de que modo eu posso te abraçar?
eu te ofereço estreitas ruas, poentes desesperados, a lua dos subúrbios gastos.
eu te ofereço a amargura de um homem que olhou longamente a lua solitária.
eu te ofereço meus ancestrais, meus mortos, os fantasmas que os vivos honraram em mármore: o pai do meu pai assassinado na fronteira de buenos aires, duas balas atravessadas nos pulmões, barbado e morto carregado por seus soldados no couro de uma vaca; o avô de minha mãe – com apenas vinte e quatro anos – encabeçando uma carga de trezentos homens no peru, agora fantasmas sobre desvanecidos cavalos.
eu te ofereço qualquer insight que possa haver em meus livros, qualquer hombridade ou humor na minha vida.
eu te ofereço a lealdade de um homem que nunca foi leal.
eu te ofereço o cerne de mim mesmo que achei de certo modo – o coração central que não aposta em palavras, que não trafega com sonhos e é intocado pelo tempo, pela alegria, pelas adversidades.
eu te ofereço a memória de uma rosa amarela vista ao pôr-do-sol, anos antes de você nascer.
eu te ofereço explanações sobre você mesma, teorias sobre você mesma, notícias autênticas e surpreendentes sobre você mesma.
eu posso te dar a minha solidão, a minha escuridão, a fome do meu coração; estou tentando subornar-te com incertitude, com perigo, com derrota.

(tradução: leo gonçalves)


o borges é um sujeito muito raro. melhor conhecido como prosador, foi também um grande poeta - um marco da lingua castelhana, grande influência de gerações e gerações na literatura argentina. e não só: também produziu bons ensaios sobre o tema, sendo que hoje, um poeta interessado em se aprimorar conceitualmente sobre sua arte perde muito se não tiver acesso às essas reflexões. por outro lado, sua posição conservadora se refletia em sua produção. isso não o impediu de ser um dos mais transgressores artistas do século xx. curioso é que como poeta, a preferência é por uma forma mais tradicional (quem se interessar, publiquei aqui no salamalandro há algum tempo um soneto dele chamado "swedenborg"). voltando de diamantina, tive o desejo de ler poemas dele. qual não foi a surpresa ao encontrar este poema que me parece esteticamente "selvagem", apaixonado e racional ao mesmo tempo. e escrito em inglês! quando eu gosto tanto de um poema assim, fico emocionado e preciso "lê-lo melhor". e "ler melhor" significa traduzir. não quis pôr o original aqui porque o blogspot não oferece muito bons recursos na formatação do poema e com esta trabalheira já basta o poema em português. mas quem quiser conhecer o original (é sem dúvida muito mais bonito que a tradução), é só clicar aqui: www.primrose.com/borges

sexta-feira

festival de inverno ufmg, diamantina - 2007

Leo Gonçalves & Patrícia Mc Quadena glória! eu também estou aí,/ estou aí o que é que há/também tô nessa boca!
Antonio Cíceroagoral: poesia e pensamento no centro do agora. turma bonita: oficina "a arte do poeta" com antônio cícero rufo herrera: palestra-show sobre o bandoneon. poesia em foles: fôlego. noite musical: na ozzetti família reis, choro diamantinense, bonito e sofisticado feito por mãos simples. capim seco, cantando no escuro. voz linda da cantora. timbre raro. mpb e clássicos da mpb. ficamos sonhando ouvir as músicas da banda. mas a promessa já foi feita. "por que você não rasga essas cartas de amor?", ela dizia. é a fabrícia. ela não tem só cara, ela é rebelde mesmo. sarau agoral: poesia aqui e agora. luciana tonelli, vera casa nova e álvaro andrade garcia, trio de gente bacana. no cabana.
luzes acesas/ vozes amigas/ chove melhor (alice ruiz) o haicai da cecília Patrícia Mc Quadeguardar uma coisa é olhá-la, fitá-la. (em primeiro plano: patrícia mc quade, a famosíssima "minha namorada") malas prontas: diamantina, um brinco de cidade Leo Gonçalves & Patrícia Mc Quade