sábado

fim do ano
somente nuvens brancas
passam em brancas nuvens

cântaro dos cântaros

achei aqui, entre outros cântaros

quinta-feira

a decisão

então reuniram-se todos os homens da cidade – os melhores. e então reuniram-se todos os homens da cidade – os piores. estava armado o quiproquó. “devemos matar o mais burro”, um falou. “devemos matar o mais pobre”, o outro falou. e um outro ainda disse: “devemos matar todos eles. comê-los não nos serviria de nada. amá-los não nos faria bem. é melhor acabar com isso e partir de uma vez por todas.”

mas a cidade era deles e eles não podiam partir. a cidade era deles – os melhores. a cidade era deles – os piores. então eles se reuniram no centro e disseram:

– morrem os mais mudos.

e todos se calaram.

domingo

no dia 04 dezembro (atualizado)



hoje, 04 de dezembro, dia de sua mãe oiá-iansã, o escrevinhador deste blogue completa trinta anos. para brindar, caetano veloso. só conheço duas versões dessa canção que o antônio risério considera o mais arrojado oriki que ele conhece. quem quiser ouvir, é só clicar aqui ó. sugiro a versão de gilberto gil, que parece quase um mantra.


senhora das nuvens de chumbo
senhora do mundo
dentro de mim
rainha dos raios
rainha dos raios
rainha dos raios
tempo bom - tempo ruim

senhora das chuvas de junho
senhora de tudo
dentro de mim
rainha dos raios
rainha dos raios
rainha dos raios
tempo bom - tempo ruim

eu sou o céu
para as tuas tempestades
o céu partido ao meio
no meio da tarde
eu sou o céu
para as tuas tempestades
deusa pagã dos relâmpagos
das chuvas de todo o ano
dentro de mim

rainha dos raios
rainha dos raios
rainha dos raios
tempo bom - tempo ruim


nesse mesmo dia, também é aniversário de rainer maria rilke. o namorado da louca lou que nasceu em 1875. exatamente cem anos antes de mim. fiquei sabendo há pouquinho tempo. eu nem gostava do rilke, mas desde que ouvi o jorge mautner recitando o começo das suas “elegias duinenses” comecei até a achar bom. vou colocar aqui um trecho da tradução feita pela dôra ferreira da silva. aquele mesmo que o mautner gosta de falar.


quem, se eu gritasse, entre as legiões dos anjos
me ouviria? e mesmo que um deles me tomasse
inesperadamente em seu coração, aniquilar-me-ia
sua existência demasiado forte. pois que é o belo
senão o grau do terrível que ainda suportamos
e que admiramos porque, impassível, desdenha
destruir-nos?


tem ainda um outro chegado que comemora anos no mesmo dia que eu: andrade muricy. esse, tenho certeza, pouca gente conhece. é que ele não era poeta não. era crítico. e os críticos morrem mudos. principalmente no brasil. gosto dele porque foi o corajoso que fez a melhor antologia de poesia simbolista brasileira, levantando nomes conhecidos e desconhecidos e provando pra nós que o brasil é moderno desde o simbolismo. e que os cascorentos parnasianos não conseguiram ofuscar com seu poder positivista o surgimento da “fraternidade de poetas” de que fala octavio paz. a nossa. é nessa geração que surgem os nossos primeiros poetas críticos (tirando sousândrade, que veio antes), porque até então, não éramos mais que pirralhos byronianos ou hugoanos com pobríssimas reflexões mais sérias. em homenagem a ele, um poema do bom e velho pedro kilkerry. é um soneto com um fantasma no meio. sempre que o leio, penso na patrícia, minha namorada. e hoje tudo o que escrevo aqui é dedicado a ela.


é o silêncio...

é o silêncio, é o cigarro e a vela acesa.
olha-me a estante em cada livro que olha.
e a luz nalgum volume sobre a mesa…
mas o sangue da luz em cada folha.

não sei se é mesmo a minha mão que molha
a pena, ou mesmo o instinto que a tem presa.
penso um presente, num passado. e enfolha
a natureza tua natureza.
mas é um bulir das cousas… comovido
pego da pena, iludo-me que traço
a ilusão de um sentido e outro sentido.
tão longe vai!
tão longe se aveluda esse teu passo,
asa que o ouvido anima…
e a câmara muda. e a sala muda, muda…
afonamente rufa. a asa da rima
paira-me no ar. quedo-me como um buda
novo, um fantasma ao som que se aproxima.
cresce-me a estante com quem sacuda
um pesadelo de papéis acima…
…………………………………………………………………………

e abro a janela. ainda a lua esfia
últimas notas trêmulas… o dia
tarde florescerá pela montanha.

e oh! minha amada, o sentimento é cego…
vês? colaboraram na saudade a aranha,
patas de um gato e as asas de um morcego. (kilkerry)

segunda-feira

psiu!

apesar que já meio na prorrogação, não posso deixar de noticiar aqui o xix psiu poético, que está acontecendo em montes claros desde o dia 04 de outubro. grande realização do aroldo, que vem mantendo o projeto ao longo de 19 anos.
pois bem, o psiu, no último final de semana, contou com as ilustríssimas participações dos meus amigos: grupoPOESIAhoje, parafenalizando os sentidos, e a dupla dinâmica bruno brum e renato negrão que tentativizou o local. infelizmente ainda não tive notícias. esperemos o que dirão os blogues nos próximos dias.
veja aí a programação dos próximos dias:
11 OUTUBRO – TERÇA-FEIRA
POESIA CIRCULAR Local: Escola Municipal Joaquim Rodrigues – CAIC Américo Souto Av. Principal , 314, Vila ExposiçãoTelefone: (38) 3229-3395
15 h – PALESTRA SOBRE O LIVRO:A Hora da Estrela – Clarice LispectorPalestrante: Ricardo Batista Lopes Local: Auditório Cândido Canela - Centro Cultural Hermes de Paula. Intervenção: Soraya Santos - Alexandre Pilati – João Arantes
16 h – PAPO POÉTICO – CCH – DCE – UNIMONTESTema: O Espaço Social do Poeta ou ainda é Possível ser poeta? Participação: Alexandre Pilati, Augusto Nesi e Anelito de OliveiraLocal: Auditório do CCH - Unimontes
20h – TOM DA TERÇA POÉTICALançamento de livros:Reverso – João Nery PestanaO Espírito do Tempo – João ArantesRios do Meu tempo – Narciso Durães Ricardo Evangelista, Marco Llobus, Deusdeth Rocha, Domingos Ramos, Joaci Ornelas, Ronaldo Pio, Ribeiro e Ribeirinho e Grupo Prego de Linha, Van SannerLocal: Sala Cândido Canela – Centro Cultural Hermes de Paula
12 OUTUBRO – QUARTA-FEIRA
10 h – Dia da Criança Poesia na Rodoviária: Interação entre poetas, músicos, atores, palhaços, brincantes e viajantes Lançamento de livros: A armadilha – Dilma Martins Prates RibeiroUm dia diferente – Maria Ruth das Graças Veloso Pinto.Local: Terminal Rodoviário
20 h - Lançamento de livros:Leitura em Braille - Micheline Lage Sonho e Agonia - Maria Luiza Silveira Teles Tempo de encanto - Regina LyraLocal: Galeria Godofredo Guedes – Centro Cultural Hermes de Paula
Espetáculo de Encerramento: Fecha a porta, Maria, que o boi evém – Balé Jaqueline PereiraPerformance Poética: Grupo Transa Poética, Mano Melo, Mané do Café, Waldir de Pinho Veloso, Vera Casa Nova, Micheline Lage, Fernando Aguiar, Alice Massa, Odila Placência, Augusto Nesi, Amarildo Azonlin, Edson Lopes.Local: Feira de Artes - Praça Dr. Chaves (Pça da Matriz), 32 - Centro

eis-me aqui de volta

o coração fervendo a cabeça partida as pernas não bastando os braços ainda curtos demais mas um dia quem sabe um dia

quarta-feira

de acordo com as palavras de um sábio ribeirãopretense

queridos leitores, eis me de volta de doze dias de muito trabalho em ribeirão preto. saí de bh às pressas para trabalhar na feira de livros que estava rolando lá. vender livros. o hábito do cachimbo faz a boca torta, dizia o meu pai. colocados os pensamentos em dia, ansiedade jogada fora, agora é descer do paraquedas e ficar com as palavras de um sábio ribeirãopretense: "não adianta vanguarda sem retaguarda". e que a volta seja redonda.

terça-feira

no ar: a rádio ufmg educativa 104,5 FM

já está no ar a rádio ufmg educativa. freqüência 104,5 FM, para belo horizonte e contagem. a rádio conta com a promissora coordenação de elias santos e já tem uma programação interessante, que inclui boa música (não a que está nos jabás da vida) e informação qualificada, dando visibilidade à produção da ufmg. o sonho de uma rádio como esta vem sendo alimentado há 3 décadas na ufmg e chega em boa hora, já que cada vez mais a universidade se afasta da comunidade e que o sistema de comunicação no país cada vez mais se mostra tendencioso e panfletário em favor das elites monopolizadoras do poder. eugênio bucci, presidente da radiobrás, comenta:
“Na democracia, a comunicação tem a função de abastecer o cidadão com informação de qualidade a que ele tem direito, além de fomentar a participação crítica”
eugênio bucci acredita que a abertura da rádio ufmg educativa é fruto de uma mudança de mentalidade da comunicação pública do país. acho que ele tem razão.
para ouvir a rádio pela internet ou escolher aquele programa que mais te interessa, visite o site www.ufmg.br/online/radio

segunda-feira

POESIAhoje na BHZIP

de quarta a sexta, no centro cultural ufmg, o grupoPOESIAhoje apresenta a instalação-quase-performance parafernalização dos sentidos. à noite. num horário surpresa. sessões de 15 minutos. esteja por lá.

道 : o tao não é o tal

todo mundo toma o belo como belo
e nisto é que se encontra sua fealdade.
todo mundo toma o bem como bem
e nisto é que se encontra seu mal.

pois o ser e o nada se engendram mutuamente.
o fácil e o difícil se completam.
o curto e o comprido se formam um pelo outro.
o alto e o baixo se tocam.
a voz e o som se harmonizam.
sucedem-se o antes e o depois.

eis por que o santo adota
a tática de não agir
e pratica seu ensinamento sem palavras.
todas as coisas do mundo aparecem
sem que seja ele seu autor.

produz sem tomar para si
age sem esperar coisa nenhuma
e não se prende à sua obra
quando sua obra está completa.
e porque ele não se prende
a obra ficará.

é do lao tsé, como não poderia deixar de tser...

sexta-feira

programação da zip

Programa

SEG 5

De 10h às 22h (CCUFMG): Mostra Palavras a olhos vendo (e ouvindo)

Videopoemas, áudio-poemas e obras gráfico-visuais de Amarildo Anzolin, André Vallias, Antônio Sérgio Moreira, Beatriz de Almeida Magalhães, Bruno Brum, Guilherme Mansur, Ivana Martinez Vollaro, João Bandeira, Lilian Zaremba, Marcelo Sahea, Marcus Nascimento, Reginaldo Gontijo, Ricardo Aleixo, Ricardo Corona, Roland de Azeredo Campos, Sérgio Fantini, Solymar Cunha, Teresa Labarrère e Wilson de Avellar

De 18h às 22h (CCUFMG):

Feira de Inutensílios (espaço para comercialização de livros, revistas, CDs, camisetas e outros produtos ligados à poesia e à arte em geral)

19h (CCUFMG): Instalação corpográfica Um caminho, com o bailarino Rui Moreira

19h30 (CCUFMG):

Mesa redonda Belo Horizonte: Zona de Invenção Poesia &

Debatedores: Fabrício Fernandino (escultor e diretor de Ação Cultural da UFMG), Gil Amâncio (músico e ator), Sônia Queiroz (poeta e ensaísta) e Camila de Castro Diniz Ferreira (editora do Suplemento Literário de Minas Gerais), com mediação de Ricardo Aleixo (curador da BHZIP)

21h Performance Cage & Ono ou John & Yoko, da poeta Ana Caetano, em homenagem ao músico-poeta-pensador norte-americano John Cage (5/9/1912-12/8/1992)

TER 6

De 10h às 22h (CCUFMG): Feira de Inutensílios

De 10h às 22h (CCUFMG): Mostra Palavras a olhos vendo (e ouvindo)

15h (LACESJK) Mostra Comentada de Videopoemas Francisco de Paula e videopoetas convidados

18h (CCUFMG): Mesa redonda Poéticas ex-cêntricas

Debatedores: Maria Esther Maciel (poeta e ensaísta), Francisco Kaq (poeta e ensaísta, Fabrício Marques (poeta e ensaísta) e Flávio Boaventura (poeta e ensaísta), com mediação de Helton Gonçalves de Souza (poeta e ensaísta)

20h (CCUFMG):

Performances: Gláucia Machado, Vera Casa Nova e Wagner Moreira

QUA 7

De 10h às 22h (CCUFMG): Feira de Inutensílios

De 10h às 22h (CCUFMG): Mostra Palavras a olhos vendo (e ouvindo)

De 13h às 22h (CCUFMG):

Maratona de Poesia & Com Alexandre Cappai, Ana Gusmão, Babilak Bah, Benedikt Wiertz, Benjamim Abras, Bruno Brum e Renato Negrão, Chacal, Fabrício Marques, Flávio Boaventura, Chico de Paula e Paulo Thomaz, Francisco Kaq, Waldemar Euzébio, Solymar Cunha, Ricardo Aleixo, Sérgio Fantini, Sônia Queiroz, PexBaa, Makely Ka, Gil Amâncio e Renegado, Poesia Hoje, Kiko Ferreira e João Bandeira

18h (CCUFMG):

Mesa redonda Mercado e contramercado de arte

Debatedores: Sebastião Nunes (escritor e editor), Makely Ka (poeta e músico), Chico de Paula (videomaker) e João Bandeira (poeta e artista visual), com mediação de Maria Antonieta Pereira (ensaísta e professora de literatura)

QUI 8

De 10h às 22h (CCUFMG): Feira de Inutensílios

De 10h às 22h (CCUFMG): Mostra Palavras a olhos vendo (e ouvindo)

19h (LACESJK): Leitura, pela atriz Letícia Castilho, de fragmentos do livro Somos Todos Assassinos, de Sebastião Nunes, seguida de apresentação do grupo vocal Dikanza, formado por integrantes da comunidade angolana de Belo Horizonte

20h (CCUFMG):

Performances Sábado da Carne, com a atriz Ana Gusmão (acompanhada, ao teclado, pelo compositor Gilberto Mauro)

SEX 9 De 10h às 22h (CCUFMG): Feira de Inutensílios

De 10h às 22h (CCUFMG): Mostra Palavras a olhos vendo (e ouvindo)

19h (LACESJK): Papo-performance com o poeta Chacal e show Torquato Total, com a cantora Patrícia Ahmaral

21h (CCUFMG): Maratona de Poesia & Com Marcelo Dolabela, Kristoff Silva e DJ Rato

Locais:
Centro Cultural UFMG (CCUFMG): Av. Santos Dumont, 174 (31)3238-1078
LACES/JK – SESC/MG: Rua dos Caetés, 603

TODAS AS ATIVIDADES TÊM ENTRADA FRANCA

quinta-feira

protesto contra a falta de memória urbana

imagem colhida no psychojoanes

local: ao lado do shopping da fé (ou supermercado da ilusão, ou elefante branco da olegário maciel, ou...) data: 1º de setembro de 2005, quinta-feira, às 19 horas
*por favor, é interessante que cada pessoa vista roupas negras e leve vela(s) para que exista um impacto maior no ato simbólico.
(só agora fiquei sabendo, através do blogue do bruno brum. estou indignado! morava ali perto e sempre admirava os casarões.)

quarta-feira

e na próxima semana: zip

de 05 a 07 de setembro, no centro cultural ufmg.
o poesia hoje vai estar lá

quinta-feira

lançamento do livro e do dvd da mip (manifestação internacional de performance)
















o ceia (centro de experimentação e informação de arte) estará lançando no próximo dia 27 de agosto o livro e o dvd da mip (manifestação internacional de performance), que aconteceu entre os dias 18 e 22 de agosto de 2003. o livro+dvd serão lançados consecutivamente em quatro cidades, a começar por belo horizonte:

bh - 27 de agosto de 2005, sábado, às 14h pça duque de caxias, sta tereza. info: (31) 3412 8445 / 8728 8804

sp - 22 de setembro, quinta-feira, às 21h 15º video brasil - festival internacional de arte eletrônica sesc pompéia - r. clélia 93 pompéia. info: (11) 3645 0516 www.videobrasil.org.br

fortaleza - 7 de outubro, sexta-feira, às 18h programa troca de idéias - auditório do centro cultural banco do nordeste r. floriano peixoto 941 centro. info: (85) 3464 3108

florianópolis - 11 de novembro, sexta-feira, às 17H30 auditório do centro de artes da udesc av. madre benvenuta, 1907 itacorubi. info: (48) 333 4335

para maiores informações e para conhecer melhor o mip, consulte o vírgula-imagem

lançamento: FOMEFORTE

quarta-feira

pra comemorar os 61 anos de paulo leminski

encontrado no site dedicado ao cachorro louco: o kamiquase

terça-feira

o silêncio dos intelectuais


de 24 de agosto a 30 de setembro, às quartas, quintas e sextas-feiras, a partir das 19h, acontece no centro cultural ufmg (avenida santos dumont, nº 174 - centro), o ciclo de debates "o silêncio dos intelectuais".

o nome místico-enigmático, é na verdade, um tema atualíssimo: a ausência incisiva dos intelectuais nas questões reais do país. os organizadores diagnosticam o problema do "silêncio" dizendo que estamos numa era de incertezas. esse silêncio gera conseqüências difíceis de se contornar a um prazo maior e demostram falta de astúcia diante dos fatos. mas então, até que ponto vai a intelectualidade desses silenciosos? essas questões estarão sendo debatidas e ficarão disponíveis em mp3 no site do minC.

o evento acontece ao mesmo tempo em outras três capitais do país. para maiores notícias, clique qui .

domingo

indie 2005 - mostra mundial de cinema

do dia 24 de agosto a 01 de setembro acontece, no usina, o índie 2005. dei uma olhada na programação e vi que eles parecem ter ampliado o projeto. como vocês viram que ando tendo um interesse especial pelos assuntos africanos, já dou aqui o meu destaque para a mostra a áfrica se filma, que por si só já daria uma supermostra de cinema. além desta, tem também outras mostras interessantes: planeta índia, música underground e mais. na mostra retrospectiva, o decálogo de krzystof kieślowski, tão difícil de achar.

a mostra mundial de cinema acontece nos cines usina, savassi e humberto mauro. entrada franca. a gente se encontra por lá.
para a programação completa: www.zetafilmes.com.br/indie


quinta-feira

"Whorf dizia que a fala é o melhor espetáculo encenado pelo ser humano. (...) É que a fala – mediando, entremeando e trespassando todas as nossas atividades cotidianas, inclusive os delírios oníricos – aqui e ali se configura de modo distinto, notável, superando a visada meramente pragmática da comunicação técnica imediata. São pontos luminosos, cristalizações sígnicas diferenciadas em meio ao conjunto total das condutas verbais. E assim podemos nos aproximar do – e talvez flagrar o – momento em que a palavra poética brota da palavra prática, desenhando um torneio digno de nota pelo arranjo dos elementos que o constituem. Desse ponto de vista, se a fala é o melhor espetáculo encenado pelo ser humano, ela às vezes apresenta um espetáculo dentro do espetáculo: a poesia. Mas não se pode, por outro lado, reduzir o poético ao poema. o poético pode se encarnar num poema tanto quanto no futebol, em tiradas que ressoam nas ruas, no paleio mais inconseqüente. Ou seja: há um espetáculo dentro do espetáculo, mas que não coincide necessariamente com os limites do objeto “poema”. Ele pode repontar em qualquer comportamento lingüístico, embora seja a marca registrada das artes da palavra.

Em suma, esses jogos verbais – e poesia é isto, para desespero dos “conteudistas”: jogo verbal – permeiam a nossa vida."

Antônio Risério em Oriki Orixá.

terça-feira

article 17 de la constitution française de 1958

"le président de la république a le droit de faire grâce."

eu sei que aqui não está dizendo que o presidente da república tem o direito de fazer graça e sim de perdoar. então, por que será que eu não estou conseguindo traduzir de outro jeito?

sexta-feira

crise nacional: psdb quer roubar sozinho, sem concorrência com o pt

li hoje que o psdb quer a cabeça do lula. o psdb perdeu as eleições e continua fazendo inferno. faz isso porque tem a imprensa do lado dele. tenho em minhas mãos uma lista de políticos mineiros (infelizmente ela não cabe aqui) que receberam grana das empresas do marcos valério para as eleições. tem muita gente do pt na jogada, sim. mas nesta lista constam 22 de-puta-dos do psdb e apenas 4 do pt (que sequer fazem parte da cabeça do partido - parece que o careca está mais ligado aos de sp). dentre os psdbistas, além do eduardo azeredo, encontro pimenta da veiga, o atual vice-governador clésio andrade, amilcar martins e muitos outros. só de minas. pelas informações que vi na tv globo, o psdb parece ser o mais assíduo cliente do pessoal (o que pegou mais grana), mas também parece que eles são menos inadimplentes que o partido do governo.

quinta-feira

:: outros bárbaros :: para quem estiver em sampa ::

semana que vem tem a mostra "outros bárbaros", no Itaú Cultural, de 17 a 20 de agosto, sempre às 19:30h. saca só a turma: ricardo aleixo, ademir assunção, frederico barbosa, chacal, rodrigo garcia lopes... e outros! entrada franca. vale a pena. olha aí o endereço:
av. paulista, 149 - sala itaú cultural
veja a programação aqui.

a mídia de rapina e a ficção (entenda-se, realidade)

essa semana eu me enchi o saco de toda a baboseira nacional em torno ao escândalo marcos jefferson x josé dirceu (porque a lama se resume a isso, com um careca enfeitando no meio). mas me interessa acompanhar palmo a palmo a novela que a mídia vai conseguir fazer a esse respeito. em qual conto eles pretendem fazer a gente acreditar. e o que é pior: a gente vai acabar por acreditar, porque a cultura nacional associa o termo realidade ao que é dito na imprensa e na televisão. por isso, me interessa por demais essa ficção.

enquanto isso, fico de olho no que a "outra imprensa" diz a esse respeito. anteontem, o marcos valério entregou para o relator da cpi uma lista de 79 nomes de pessoas e empresas que receberam grana para a campanha do psdb em 1998. pensei logo: tá aí uma lista que não vai ficar à disposição do povo, pois a imprensa não vai dar nenhum destaque. mas se você quiser saber, clique aqui e saberá. mas se você quiser saber mais detalhes sórdidos, pode também clicar aqui que tem uma longa reportagem explicando tudinho.

mas a minha nota estarrecida não é sobre nenhum escândalo, nem sobre nenhum marcos jefferson, nem sobre o josé dirceu que tá ferrado, todo mundo sabe. nada disto. é que eu ainda não tinha me atentado para um detalhe: o relator da cpi é ninguém menos que o deputado ibrahim abi-ackel. para quem não se lembra, ele foi o ministro da justiça do general figueiredo. o ministro da justiça. na época houve um grande escândalo em torno ao desaparecimento de pedras preciosas e ele era o principal envolvido. o minstro da justiça. hoje deputado e relator da cpi. dá o que pensar.

terça-feira

ibrahim ferrer cantava com os olhos



silencio, que están durmiendo los nardos y las azucenas

morreu anteontem o cantor cubano ibrahim ferrer. o único cantor que já ouvi que sabia cantar com os olhos. a síncope da canção cubana delirava na boca do negão, canção de olho pra olho. olho no olho. olho por olho. foi cantar com o compañero compay no outro jardim. valeu.

mídia brasileira começa a querer a cabeça de lula/ lula oferece a cabeça para a mídia de rapina

até certo momento, a imprensa de rapina parecia querer poupar o presidente lula no meio das denúncias e armadilhas. agora, o quadro está mudando. lula está na mira dos jornalistas. a revista veja é o grande panfletão na jogada anti-pt, mas não só. quem, como eu, é leitor de entrelinhas (além das linhas de fato), poderá enxergar puro discurso na foto que saiu hoje no jornal Estabulo de Minas onde aparece o presidente no meio de um imenso bololô de aeroporto. o segurança que aparece de costas ao lado do de lula é um careca que dá a impressão de ser o marcos valério.
ilusões de ótica à parte, já começa a me irritar a falta de atitude do barbudão, que tem feito uma peregrinação bonita pelo brasil afora, mas está se esquecendo que política é articulação (que é, aliás, o nome da tendência dele dentro do pt) e que enquanto ele não faz nada, nem toma postura, nem coordena as movimentações e, o que era mais urgente, não dá satisfações à população, as coisas vão ficando cada dia mais sujas. a articulação está na mão de apenas um: o que assumiu ser fedaputa mesmo, o roberto jefferson (está conseguindo a cabeça de todo mundo que ele quer). e em breve, a mídia de rapina acabará por ter razão no meio da confusão.

domingo

ptm (política tradicional mineira) ou para que serve manter a imagem da tradição?

o jornal estábulo de minas, o grande curral dos mineiros, publicou hoje, domingo, no seu editorial (estampado na primeira página) uma imensa nota repudiando a constante presença de minas gerais entre as listas do marcos valério e no escândalo nacional. eles querem fazer a gente acreditar que a velha tradição política mineira é a grande maravilha do brasil. fazem uma lista que inclui o bias fortes, o antônio carlos e mais uma corja de fedaputas que sacanearam o brasil durante muitos anos achando que isso é alguma vantagem.

esqueceram de falar que foi por causa da imprudência do magalhães pinto (governador de minas gerais) que a ditadura militar começou. aliás, falaram em um político supertradicional: o aureliano chaves (era o vice do general figueiredo). então, eu fico aqui pensando cá com os meus botões como que o famoso ptm é, na verdade, um jeito de camuflar toda a corrupção de que esses caras são capazes. samba é sempre a mesma história, já dizia o macalé. aí vai uma pequena lista dos mineiros que estão sendo investigados pela cpi dos correios e que a mídia não diz nada a respeito. (quem quiser, me escreva para maiores detalhes). paulo menicucci (psdb), pimenta da veiga (psdb), cristiano paiva neves (psdb), josé luiz alves (psdb), cantídio cotta de figueiredo (ptb), nestor francisco de oliveira (pfl), ademir lucas (ex-prefeito de contagem, psdb) a lista é longa. com tudo isso, dá pra notar que a mídia brasileira se tornou um grande panfleto anti-pt. por que ninguém fala nesses caras, só em pt? eu, que sou desconfiado, fico achando que tem ainda algum coelho escondido nessa cartola. e é contra a mídia.

sexta-feira

câmara setorial do livro

e afinal, como eu disse no outro dia, na videoconferência da semana passada ficaram escolhidos os representantes da região sudeste. escolha dos representantes das cinco macrorregiões do país será anunciada em agosto pelo ministro gilberto gil. esta foi a forma encontradapara evitar que fossem indicados representantes de um único segmento nas regiões, o que poderia gerar um desequilíbrio na composição de câmara, que terá 44 membros do estado, setor privado e terceiro setor.
os representantes da região sudeste são: Maria Antonieta Cunha, de BH, Sílvio Dante Folli do ES e Vânia Rezende, do RJ. SP abriu mão do seu representante em favor de BH. a escolha não foi muito favorável para o povo do literatura urgente, do qual faço parte, mas também, os caras não colaboraram muito.

quarta-feira

] ao meu redor [ andityas soares de moura

o estudo me fez espirituoso


E todos os dias parecem reclamar
seu quinhão de sombra e de desassossego,
enquanto nós, com o silêncio de gestos
muitas vezes repetidos, construímos o
torpor, a catatonia de um mundo que se entrega.


do livro FOMEFORTE

tem um comentário do poeta irlandês w. b. yeats sobre pound, onde ele diz: “esse é um poeta de cuja teoria eu discordo completamente, mas que a ele estou ligado por questões que ultrapassam a estética” (estou citando de cabeça). agora já deve ter passado uns oitenta anos desde que yeats escreveu isso, e olhando de outro continente, em outro contexto histórico (livre dos fascismos que iludiram os dois grandes camaradas de que eu falei), posso agora brincar de gente grande e falar o mesmo sobre este meu parceiro. e falarei em forma de relato.

andityas soares de moura é um poeta português, filho de pais brasileiros e nascido em barbacena, interior de minas gerais, estado onde sempre viveu. como estrangeiro que é, onde quer que esteja, vive assumindo em sua poesia uma persona nova, que inclui uma língua e uma forma específicas. mas que ninguém se engane: todas elas transitam num mesmo espaço, onde a realidade é apenas um elemento em meio aos diferentes artifícios aos que ele se apega para os seus versos.

certa vez, num sarau que fizemos numa livraria onde trabalhei há muitos anos atrás, o andityas, tendo lido alguns dos meus poemas, me veio com a seguinte resposta: “estás compromissado com a modernidade”. pouco depois, pude ler o seu primeiro “poemário” (como ele o chama), Ofuscações. achei, e ainda acho, extremamente romântico, deslumbrado com rimbaudismos, traklismos, vangogoghismos, delírio verbal sem artifício, um tanto quanto retórico. pensei: “esse cara está compromissado com o passado.”

lentus in umbra

quando o reencontrei, anos depois, ele tinha nas mãos o seu mais novo livro, cujo título confirmava a minha suposição: lentus in umbra (imagina! se fosse dos meus, não pensaria duas vezes em meter o título em língua brasileira. brasileiríssima, aliás: tranqüilo na sombra. mas o fato é que gosto do livro, e talvez não gostasse se tivesse o título que sugiro). o título, tirado da écloga I das bucólicas de virgílio. nesse livro, aparecia algo de novo: o elemento ezra pound, make it new. lentus in umbra foi logo traduzido na espanha e publicado pela prestigiosa editora trea. havia-se acrescentado ao caldo, uma imensa paixão pelos cantares d’amigo medievais em todos os seus desdobramentos: galaico-português, provençal, francês, catalão, castelhano e o que daí surgiu em termos de poesia nas línguas neo-latinas.
PAX ROMANA Tu, deitada no templo, decifrando as escuras pilastras da casa, ouve minhas palavras metálicas. Ainda hoje saborearei teu corpo, quer m’ofereças, quer não. Jasmins tenho em minha carroça para impressionar teus gostos arrojados; serei um afável salteador, roubando-te as mais pecaminosas excitações cerebrais. Ainda hoje tu te deitarás comigo no prado. Afastemo-nos da cidade. Então apresentar-te-ei vários elixires, temperos raríssimos. Os milênios serão nossos confessores. (de lentus in umbra)

OS enCANTOS

daí, em 2002 conspiramos e acenamos com uma possibilidade (hoje concretizada): publicar pelo selo in vento o seu livreto outsider OS enCANTOS. como leitor, considero este livro uma grande homenagem ao mestre pound (andityas é hoje um dos poucos poetas, talvez o único, que puderam se arriscar na empreitada de ser poundiano em terras brasileiras, o que só é possível com muita erudição).

OS enCANTOS é o livro dele pelo qual tenho maior simpatia. é que nele a ousadia é deslavada. faz jus ao verso de um poema de lentus in umbra: “o estudo me fez espirituoso”. fica numa fronteira idiomática própria de momentos sociais de tensão. guerra. festa. fresta. fantasmagoria. carnaval. é a veia janequiniana do andityas.

daí pra frente, estreitamos a amizade. tive a honra de revisar ponto por ponto a sua inventiva tradução da poeta galega rosalía de castro, o recém publicado a rosa dos claustros (crisálida, 2004). pouco depois, fizemos contínuos trabalhos em torno à poesia de um argentino que ambos admiramos muito (todo mundo já o sabe), juan gelman, grande parceria! o a.s.m. publicou ainda o livreto à boa teta, com poemas licenciosos do século XVI francês.

continua...

FOMEFORTE

“um homem fica muito aterrorizado por uma fome forte; e esse terror é a raiz de toda crueldade.” (d.h.lawrence)
tudo isso pra dizer que acaba de chegar o mais novo livro da imensa prole de andityas: FOMEFORTE. também faz parte do selo in vento e esta edição tem a parceria da editora crisálida. a palavra dele amadureceu, as ilusões se acalmaram no peito, as amizades se firmaram. t.s.eliot, rûmi, laforgue, molière. o verso duro é saudado por ninguém menos que glauco mattoso e o nosso grande mestre: juan gelman, que assinam orelha e contra-capa.

a dureza dos poemas é um contrapeso diante de uma coisa incerta que cerceia todo o “poemário”, a insegurança causadora de tensão. como o andityas é um poeta partidário da razão, dá uma puta tentação de enfileirá-lo na turma dos limpinhos e higiênicos poetas da minha geração (não vou citar nomes aqui). mas a verdade é que a poesia desse português das minas (lembrem-se da fama de barbacena torno aos hospícios) respira a uma vivacidade incomodante, misturada com o pedantismo próprio das línguas românicas. pensamento conciliador, o demônio das coisas concluídas e bem arranjadas, a voz dos ofendidos na guerra. vida atual. tempo atual. em cumplicidade com o tempo insistentemente obsoletizante, desobsoletizando-o. contra uma mera moral. a favor de outro tipo de bons costumes.

não é um poeta para escolinhas de adolescentes. não é nenhum partidário da certeza, como tantos. é um cara vivo e atento. antenas viradas para um outro lado sem o grande bocejo da vida dita “real”.

quem quiser encontrar as obras de a.s.m na internet, está fácil: OS enCANTOS e lentus in umbra estão disponíveis na web. leia os livros do andityas aqui.

3 poemas do livro FOMEFORTE

AUDIÇÃO PARTICULAR 2
Violin-Sonate nr: 9 in A-Dur [Opus 47]

já te disse:
lambuza-te de
mel
e terás minha atenção

e t’encontrava
nas plácidas
horas digestivas
(após o almoço)

nada poderia
ferir mais que
a ponta dos joelhos

talvez somente o
1° movimento
da sonata Kreutzer

e tu soavas
a cada gemido

as molas: piano
o gozo: violino


A CAPA DO CRITÉRIO (ESTUDO 2)

mulheres de plástico
é do que precisamos

com seus dedos de plástico
cheiroso transparente (vítreo)
lustroso (vinil) virgem
pisariam as
ruas

haveria delírio frenesi
ruptura

Tiradentes

3.
(excursus)

cravei a memória
do meu sono
neste sino
e perguntei:
é 1 real a entrada?

não, não,
fio,
só si a
pessoa quisé
ajudá
explicit canto

telesur

entrou no ar no último domingo a telesur. a belíssima iniciativa tem sua base na venezuela e estará no ar em toda a américa latina. incluindo o brasil, é claro. o objetivo é uma emissora de tv para uma integração entre todos esses países, facilitando o contato e a irmandade. uma emissora assim já vinha sendo idealizada há muitos anos por intelectuais de grande importância como eduardo galeano (uruguai) e fernando solanas (Argentina). entre os organizadores, tem também o walter salles e o fernado morais. o canal promete. para se ter uma noção melhor da iniciativa, clique aqui. o endereço do site da emissora é www.telesurtv.net

descoberto uso do valerioduto por eduardo azeredo

deu ontem na primeira página do "o globo" mais um furo jornalístico: encontraram documentos que informam sobre o uso do valerioduto na campanha de 1998 para governador do atual senador eduardo azeredo. a notícia não circulou em minas gerais. os jornalistas mineiros têm medo de noticiar qualquer informação que possa denegrir a imagem do atual governador, o nosso queridíssimo aécio neves que tem o displante de conseguir a demissão de qualquer um que se aventurar a fazer isso.

segunda-feira

piores poemas

essas traduções ganharam "menção honrorosa" na bienal dos piores poemas, em 2004. parabéns. os autores? claro, eu, a letícia féres e o anderson almeida.

O Mar Português
Fernando Pessoa

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.


.................

Omar, Português

Mar Morto, Mar Mita, Mar Mota

Omar Salgado, quanto do teu sal
Veio salgar meu bacalhau!
Por nos cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantas noivas na mão ficaram!
Quantas moças estão a navegar
Para que fosses o meu Omar!

Foi bom pra você? Se a sardinha não for pequena
Ainda vale a pena!
Quem quer passar a mão no beijador
Tem que pegar no trovador.
Dei, Omar, para o Pedrinho e pro Francisco dei,
Mas como você jamais provei.

.......................

Alma minha gentil, que te partiste

Luiz Vaz de Camões

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.


E se vires que pode merecer-te
Alg?a cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

.....................

Ó maminha gentil, que te partiste

Para Glauco Mattoso

Cecil B. DeMilus, Sophia DuLoren, Laurinha Trifil

Ó maminha gentil, que te partiste
Tão cedo deste corpo adolescente,
Lembra da tua irmã, discretamente,
E viva eu aqui, sem ti, em riste.

Se lá no lado esquerdo já caíste
E sonhas em voltar aqui pra frente,
E com vergonha a sua dona, deprimente,
Não tem como esconder e fica triste.

E se ainda quiseres reerguer-te
Pois arranjes reforçado sutiã.
Dou-te com bondade esse macete.

É de graça. Mas já sei, caída irmã,
Que por enquanto só vou ver-te
Indo à puta-que-pariu de rolimã.

Poesia aqui e agora

Estado de Minas, Caderno Pensar (19/02/2005)

por Mário Alves Coutinho


Leo Gonçalves, em idade cronológica, é um poeta novo; mas como as vias e os caminhos da poesia são mágicos (mas não só; a poesia é magia, mas realismo também), ele tem um conhecimento e uma sabedoria do mundo que vão além dos anos vividos. Quando ele escreve, num de seus poemas de das infimidades que “um poema bonito/ seria assim assim como um poema conflito”, ele já intuiu, mas provavelmente já deve ter vivenciado, algo que William Blake, já sabia: “Sem opostos não há progresso. Atração e Repulsão, Razão e Energia, Amor e Ódio, são necessários para a existência humana” (O casamento do céu e do inferno).

Para ele, a beleza não existe somente no ideal, no etéreo, no excepcional, mas na realidade, no cotidiano, no dia-a-dia. Leo Gonçalves é daqueles poetas que procuram pensar e falar da sua experiência, por mais pequena e ínfima que seja, e daí extrair conhecimento, sabedoria, música, quer dizer, poesia. Do etéreo, ele também trata, só que com ironia: “Até gosto às vezes/ de brincar de anjo/ do que não gosto/ é da tremenda dor/ que me fica depois/ nas asas”.

Assim é a poesia de Leonardo Gonçalves: minimalista, reduzida ao essencial, preocupado em extrair beleza (e conhecimento) da vida mesma que ele leva, em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Pois, como escreveu Octavio Paz, em O arco e a lira, “o poeta escuta o que o tempo diz, ainda que ele diga: nada”. O tempo pode dizer o amor (“deve ter algo no céu/ da sua boca/ que me faz brilhar”, que lembra outro poema em prosa de Blake, “aquele cuja face não ilumina, nunca se tornará uma estrela”) ou, talvez, o desespero (um poema em que repete os refrões, “e você ria”, “você não vinha”, “você mentia”). Mas o tempo, através de Leonardo Gonçalves, está sempre dizendo que a vida é horror e delícia, claridade e escuridão, noite e dia, tudo junto, inseparável (e é isto que, finalmente, faz a sua beleza): “Quando eu morrer/ favor anotar no final da minha paixão:/ morreu de tanto viver”.

Aí está toda a magia da poesia, em sua beleza e completude: até mesmo o ato de morrer, pode ser, contradição suprema, uma afirmação, na verdade e ainda um ato de vida. Pois, como escreveu William Blake, “tudo que vive é Sagrado”. Ou, como afirmou Octavio Paz, “poesia, momentânea reconciliação: ontem, hoje, amanhã; aqui e ali; tu, eu, ele, nós”. Poesia, como bem sabe Leo Gonçalves, é conflito, mas também reconciliação.

o mal da imprensa ou o jornalismo transgênico

aqui no brasil, é a imprensa quem define os destinos que iremos tomar. o discurso é o seguinte: o povo tem direito de saber tudo o que acontece. é dever da imprensa divulgar o que se passa nos bastidores de tudo. temos o dever de informar a verdade para as pessoas. blablabla. e assim, eles nos informam da verdade deles. porque o problema é que nem todo mundo sabe que a verdade é adaptável para as diferentes necessidades. e então, cada jornal e cada emissora de tv adapta a verdade a favor de alguém. os jornais têm os mesmos problemas que os transgênicos: ninguém sabe a quem eles estão servindo. por isso, deveria vir na primeira página de cada jornal, algo parecido com os rótulos avisando sobre os produtos transgênicos. imagina se viesse escrito nos jornais, como O TEMPO, por exemplo, o seguinte aviso: "este jornal é imparcial em favor dos interesses do psdb." ou ESTADO DE MINAS, "o grande jornal dos mineiros sempre a favor do governador." acho que assim estaríamos melhores. na história da histeria atual em torno à corrupção, deveríamos agora lutar por algo como uma CPI da imprensa brasileira ou a criação de mecanismos que obriguem os jornalistas a se tornarem mais sérios. afinal, algo precisa ser feito. e com urgência.

quinta-feira

literatura de bordel

para cicciolina e marcelo companheiro
o jornalista fotografa
a boceta filet-mignon da prostituta
aqui tudo pode
(ensaio com 75 poses caras e bocas e perversão)

de longe vem o rugido da horda
alegria um velho safado
consolo no rabo
porta aberta em senhorita lusbel

o guarda no batente se levanta
aponta o cassetete pra fazer seu certo
dá revista completa no sujeito
e termina pagando boquete
o ensaio sai no jornal nacional

nessa orgia deslavada
todo coitado quer meter o pau
repórter mariquita recatada
quis mamar na teta seca dessa vaca
cobriu a batucada na semana passada
voltou prenhe de um casal de maritacas

por aqui, tudo é amor
aqui todos tomam nos cus
seu tião faz sacanagem pura
pra avisar que o que é bom se faz aqui
o buraco não é só embaixo
& a festa é na coluna social
todos os direitos reservados:
conversa de microfone, classe média no mediano
grana jogada de grila, verdinhas, verdinhas e verdões

mas quem mais ganha nessa brincadeira
é a puta e o delegado, o programa do jô e o jornal nacional:
glória à audiência nas alturas,
e putaria aqui na terra, amém.

rapidinhas

mais sobre a imprensa de rapina

soube ontem que o financial times, um jornal altamente capitalista, levantou a discussão do problema da mídia brasileira. segundo eles, passados os vinte anos do fim da ditadura militar, a imprensa brasileira ainda continua tentando levantar estratégias para engambelar o leitor e não ter que responder por supostas acusações que faz inadvertidamente. de fato, a luta pelo "furo" de reportagem é um dos maiores males da cultura brasileira e chega a ultrapassar os limites da mídia. a suposta "novidade" é o nosso fetiche maior, não nos preocupando nunca em ter bases firmes para agüentar problemas realmente graves.
zona de invenção poética &
saravá! o puxador da bateria, ricardo aleixo, voltou a entoar o bordão: datas alteradas, a notícia é boa. o zip, que aconteceria no ano que vem, agora acontece em setembro deste ano, em belo horizonte, com os poetas da linha de fronteira. a bienal de poesia, que aconteceria neste setembro, fica remarcada para o ano que vem. mais notícias, no jaguadarte. revista mondana
seja benvinda! para quem se lembra e já se deliciava com o fanzine idéias bizarras, começa a circular de maneira igualmente deliciosa (e gratuita!) a revista mondana, em formato grande e repleta de novidades e curiosidades interessantes. como avisa a editora christina castilho, variedade no melhor sentido da palavra. ah, se toda mídia fosse assim...

terça-feira

imprensa de rapina é o mais inalterável vestígio da ditadura militar ou eu também vou reclamar

há muito tempo que olho amargo para as matérias sobre a política nacional na imprensa e fico extremamente chateado. exatamente por isso, deixei (como boa parte dos brasileiros) de ler ou ver jornais. com a crise, ficamos mais atentos. então, por isso mesmo. pare, pense e me diga: quem é que mais lucra com a patética situação do país da batucada?
não quebre demais a cabeça. é claro que é a imprensa. agora ela está sapateando sobre a cova do PT. soube na semana passada que marcos valério soltaria a língua e que viria tiro para todo mundo, incluindo o aécio neves, nosso excelentíssimo governador. mas no mesmo dia, vi uma entrevista realizada contra (isso mesmo, contra) o marcos valério no jornal nacional. fiquei impressionado em ver o quanto o jornalista se preocupa em falar somente em uma sigla: pt. querem destruir o partido dos trabalhadores. enquanto isso (eu ia conversando com meu amigo antônio sobre isso hoje), o país fica perdendo tempo com bobagens. deveríamos agilizar o processo de apuração dos crimes todos de uma vez e fazer de tudo para sair da crise, e não ficar fazendo esse jogo ridículo. no cenário mundial, novas possibilidades se abrem para o brasil. os países desfavorecidos começam a abrir caminho no meio da merda mundial. o brasil pode ficar pra trás se ficar só nisso.

as réplicas do marcelino

não posso deixar de comentar aqui a teima e a toleima do matador-mor da revista veja, ora vejam!, que atacou mais uma vez metendo o pau no trabalho de dois caras da nova geração: o era-o-dito marcelino freire e o encarniçado joão filho. ele não tem mais o que fazer. confesso que ainda não li o livro dos dois camaradas. mas também confesso que o texto do jt despertou a minha curiosidade para lê-los. além do mais, o cara escolheu trechos inspirados dos livros deles para falar mal. deve estar é querendo ficar famoso às custas dos caras! só pode ser isso.

agora, novos detalhes sórdidos começam a aparecer em torno ao matador: se arriscou como escritor e ainda tem um ... digamos... blog! na superinteressante. Superinteressante! então, pessoal, vai lá e enche o saco do cara. encham a bola dele. façam algo por ele. ele está clamando por bombons. ora ora... olha o link aqui (uma dica: para quem tem email grátis, minta. o nazista não aceita mensagens de quem não paga internet, mas aceita de quem mente.)



clique aqui para ler a carta do marcelino (mais um tiro certeiro na cara do jt) publicada ontem no era-o-dito.

segunda-feira

à boa teta

teta nova, mais branca que ovo,
teta de cetim branco novo,
teta que faz a rosa corar,
teta de beleza sem par,
teta firme, não teta, enfim,
pequena esfera de marfim,
no meio da qual se fareja
uma framboesa ou uma cereja,
que ninguém vê, tampouco toca,
mas assim é descrita em doce fofoca.
teta, pois, da pontinha vermelha,
teta que sempre imóvel semelha,
no ir e vir de seu caminhar
ou para correr, ou para bailar.
teta esquerda, teta sozinha,
teta separada da sua irmãzinha,
teta que é grande homenagem
para o resto da personagem.
teta, que desperta em moço e ancião
um grão desejo lá dentro da mão:
de te provar, de te possuir.
mas é preciso refrear o sentir,
o achegar-se assim tem que ser,
senão outras vontades verás florescer.
ó teta nem grande nem pequena,
apetitosa, desenhada a bico-de-pena,
teta que noite e dia implora:
“casa-me, casa-me agora!”
felizardo, eis como se chamará
aquele que de leite de t’encherá
fazendo de teta de donzela
teta de mulher inteira e bela.

poema de clément marot (1496-1544) publicado em à boa teta [tradução de andityas soares de moura]. crisálida, 2005.

cicciolina

you said everything revolves around a certain principal
you said everything depends upon our understanding of the political

my Cicciolina everything is physical
my Cicciolina everything's political

you're the butterfly goddess floating down
streams of love's jetting sperm fountains
everyone wants to consume you cicciolina
why should I be any different?

my cicciolina everything is physical
my cicciolina you fill me with a boa constrictor love
love like a fire
love like a flame
but you eliminate
there she goes again floating down those lovely streams of
those lovely streams of

my cicciolina everything is physical
it's all political
my Cicciolina

é uma musica do machines of loving grace

sexta-feira

cicciolina, la diva futura

tenho que admitir: sou fã dessa loura.

sagitariana como eu, a oxigenada escandalizou a itália com uma meia dúzia de deliciosos atentados po(rno)é(ro)ticos. foi presa várias vezes e foi processada inúmeras vezes por atentado ao pudor.

por exemplo: nos anos 70, ela apresentava um programa de rádio onde ela dava conselhos sexuais de deixar qualquer penélope de cabelo em pé. uma noite, recebeu uma ligação de um adolescente que queria aprender a se masturbar. ela deu todas as instruções e a garota teve um orgasmo em cadeia nacional. audiência nas alturas. no dia seguinte, processo por perversão de menores.
cicciolina fundou na itália o partito dell'amore e foi eleita de-puta-da depois de mostrar a boceta pra todo mundo. ela explica que somente através do amor, digo: o amor!, as pessoas vão se tornar mais dignas e a violência diminuirá. "não é verdade que o sexo desperta a violência nas pessoas", ela insiste.

ela também dirigiu alguns filmes. il telephone rosso e la diva futura são dois verdadeiros clássicos. este último, de vanguarda, com maravilhosos elementos porno-dadaístas. quem quiser saber mais, leia a autobiografia dela, o livro confessions.

imprensa de rapina

só pra fechar, a revista óia se gaba ter sido a heroína que primeiro lançou a bomba sobre o Bob Jefferson. anda dando uma de heroína salvadora da lavoura. ninguém contesta os fatos em torno à corrupção nacional. mas ignoramos a maior parte das entranhas desse assunto. o que não acontece com o movimento literatura urgente. quem estiver afim de saber tudo sobre o assunto, as propostas e tudo mais, tá fácil fácil. então fico pensando cá com meus botões. se com a gente eles fazem isso, não quero nem ver o que fazem para foder a turma lá que já tá mesmo toda suja até o queixo! o brasil está viciado em heroínas!?

ainda sobre ontem...

um último comentário: o texto da veja realmente me deixou chateado. não apenas por causa da maldade inerente aos semanários nacionais, mas porque eu sei que no brasil essas idéias são bastante respeitadas. afinal, esse é um país onde os escritores são funcionários públicos que enquanto ficam morcegando, vão escrever uns livros clássicos aí tipo "a rosa do povo" e "memórias póstumas de brás cubas". eu só fico achando é que a revista dessa vez brincou com fogo, eles não deviam ter feito uma tolice dessas. escritor não é corrupto que fica abusando do dinheiro público não. é gente muito mais perigosa. desestabiliza a ordem. fica brincando... mesmo assim, eu deixo aqui uma nota triste e mudo de assunto.

quinta-feira

povim

só hoje é que fui ver a revista veja que publicou a infeliz matéria sobre o movimento literatura urgente assinada pelo jornalista jerônimo teixeira. o texto só veio comprovar o meu descrédito com a revista. da forma como está dito, faz parecer que o movimento visa um benefício do tipo que anda circulando por "malas" e "cuecas" para uma meia dúzia de escritores que, em sua maioria, não têm nem tanto espaço quanto o desperdiçado pelo ilustríssimo nazista que assinou o libelo. chegando na rede, fiz questão de dar uma olhada geral e ver o que os "acusados" por ele dizem, e gostei. dêem uma olhada aqui e aqui. comentário: nesse país de imprensa marrom não se pode nem ser escritor sem ser visto como um tolo ridículo. para quem não sabe, fomentos nacionais em favor da produção literária são prática salutar e muito bem vista. os mais pacientes, procurem pelas experiências bem sucedidas de países como a espanha, a frança e a irlanda, e me diga o que devemos fazer com jerônimos teixeiras e revistas óia. em tempo: é sempre bom lembrar que a revista veja, assim como todas as revistas brasileiras se encaixa também na lei que a torna isenta de qualquer imposto sobre impressão e sobre o papel onde ela imprime as suas falcatruas. confira na constituição brasileira. art. 150. sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à união, aos estados e aos municípios: VI. instituir impostos sobre: d. livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão.

sexta-feira

projeto sertão mineiro

está em cartaz no palácio das artes a video-instalação sertão: casa da imagem. a exposição é parte do resultado de um trabalho de fôlego, feito com paixão e profundidade raras por aqui, no país da batucada. a outra parte do trabalho é o documentário sertão mineiro, que está a venda em dvd. ambos foram dirigidos por álvaro andrade garcia que nos brinda com um transbordante acervo de filmes, entrevistas, imagens e informações a respeito de tudo aquilo que chamamos sertão. não é um mero retrato ufano e ultra/passado do sertão. o sertão todo mundo sabe, é aqui (www.sertoes.art.br) e agora. mesmo em belorizontem. vá ver.

terça-feira

o bom menino

não saberei desamarrar os sapatos e deixar que a cidade me morda os pés,
não me embebedarei sob as pontes, não cometerei faltas de estilo.
aceito este destino de camisas engomadas,
chego a tempo nos cinemas, cedo meu assento às senhoras.
o longo desregramento dos sentidos me vai mal, opto
pelo dentifrício e as toalhas. me vacino.
olha que pobre amante, incapaz de jogar-se numa fonte
para trazer-te um peixinho vermelho
sob a raiva de meganhas e babás.


poema de julio cortázar. olha aí o original:

el niño bueno

no sabré desatarme los zapatos y dejar que la ciudad me muerda los pies, no me emborracharé bajo los puentes, no cometeré faltas de estilo. acepto este destino de camisas planchadas, llego a tiempo a los cines, cedo mi asiento a las señoras. el largo desarreglo de los sentidos me va mal, opto por el dentífrico y las toallas. me vacuno. mira que pobre amante, incapaz de meterse en una fuente para traerte un pescadito rojo bajo la rabia de gendarmes y niñeras.

sábado

céu e inferno (mirabilibus ex auditis et visis)

ando lendo, entre outras coisas, a obra do peça-rara sueco emanuel swedenborg. nascido em 1688, morreu aos 84 anos. foi um dos maiores cientistas de todos os tempos, dominando áreas como física, química, filosofia, psicologia, política, anatomia, entre muitas outras. foi pesquisador pioneiro em várias delas. foi também poeta e literato. mas o que o tornou mais conhecido pelo mundo afora foi a sua obra teológica. é que, aos 56 anos, segundo contam, recebeu a visita de ninguém menos do que o TP (o Todopoderoso) que lhe deu a missão de revelar os segredos do céu, do inferno e os símbolos escondidos por detrás dos escritos bíblicos. palavras do próprio "Na mesma noite, o mundo dos Espíritos, do céu e do inferno, abriu-se convincentemente para mim, e aí encontrei muitas pessoas de meu conhecimento e de todas as condições. Desde então, diariamente o Senhor abria os olhos de meu Espírito para ver, perfeitamente desperto, o que se passava no outro mundo e para conversar, em plena consciência, com anjos e Espíritos".
daí por diante, escreveu uma vastíssima (mais de 40 títulos), obra que fez a cabeça de uma pequena ralé literária: kant, goethe, balzac, dostoievski, william blake, charles baudelaire, w. b. yeats, s. t. coleridge, ralph w. emerson, henry james, august strindberg, é elogiado por paul valéry, aclamado por jorge luís borges e tema de uma das obras principais do poeta polonês czesław miłosz: ziemia ulro/land of ulro. no brasil exerceu influência apenas sobre um único poeta, o mais original dos românticos brasileiros: sousândrade. ele aparece no começo do inferno de wall street.


1. (O GUESA, tendo atravessado as Antilhas, crê-se livre dos XEQUES e penetra em NEW-YORK-STOCK-EXCHANGE; a Voz dos desertos: )


Orfeu, Dante, Enéas, ao inferno
Desceram; o Inca há de subir...
Ogni sp'ranza lasciate,
che entrate
Swendenborg, há mundo porvir?
mas, assim como sousândrade, por aqui ele não é muito conhecido. quase não se fala nele. as poucas referências que andei encontrando: o livro de miłosz publicado pela unb na coleção poetas do mundo não mais, que, alías, foi a que me despertou interesse pela obra do sueco, o casamento do céu e do inferno de william blake (que tem uma excelente tradução no livro tudo que vive é sagrado da editora crisálida), que a meu ver é uma espécie de resposta ao livro de swedenborg de coelo et ejus mirabilibus et inferno, ex auditis et vidis, algumas passagens da ReVisão de Sousândrade (sempre sem muita coragem por parte dos organizadores e comentaristas) e o livro A loucura na razão pura de monique david-menard.

essa obra teológica deu origem à igreja swedenborgiana que, teologicamente, parece ter incentivado as incursões espirituais do francês allan kardec. segue aí o endereço do site brasileiro sobre a obra de swedenborg, organizado pela sua igreja brasileira (sede no rio de janeiro desde os anos 40!). vale a pena conferir: www.swedenborg.com.br

emanuel swedenborg

mais alto do que os outros, caminhava
aquele distante homem entre os homens;
chamava, apenas, por secretos nomes
os anjos. com sua visão mirava

o que não miram olhos terrenais:
a ardente geometria, o cristalino
edifício de Deus e o torvelino
nefando dos deleites infernais.

conhecia que a Glória e o Averno
estão na alma e suas mitologias;
sabia, tal como o grego, que os dias

do tempo são espelhos do Eterno.
em árido latim foi registrando
últimas coisas sem por quê nem quando.


o soneto é de jorge luís borges (swedenborges?). aí está o original:

más alto que los otros, caminaba/ aquel hombre lejano entre los hombres;/ apenas si llamaba por sus nombres/secretos a los ángeles. miraba/ lo que no ven los ojos terrenales:/ la ardiente geometría, el cristalino/edificio de Dios y el remolino/ sórdido de los goces infernales./ sabía que la Gloria y el Averno/ en tu alma están y sus mitologías;/ sabía como el griego, que los días/ del tiempo son espejos del Eterno./ en árido latín fue registrando/ últimas cosas sin por qué ni cuándo./

sexta-feira

olha só quem chegou na blogsfera...

segunda-feira

cogito

eu sou como eu sou pronome pessoal intransferíveldo homem que iniciei na medida do impossível

eu sou como eu sou agora sem grandes segredos dantes sem novos secretos dentes nesta hora

eu sou como eu sou presente desferrolhado indecente feito um pedaço de mim

eu sou como eu sou vidente e vivo tranquilamente todas as horas do fim.

20.10.70 torquato neto

dos sofrimentos cotidianos

Tricas...Nadinhas mil... Ridículos extremos... Enxame atroz que em torno à gente esvoaça. E disto, e só por isto envelhecemos... Nem todos podem ter uma grande desgraça!

poema do Mário Quintana

quinta-feira

Sobre tigres, lobos e cordeiros

Marcelo Coelho

Folha de S.Paulo, 22 de junho de 2005

Indicações de livros são sempre coisa arriscada; a rigor, só deveriam ser feitas a amigos próximos, a pessoas cujos interesses conhecemos bem. Mas quem atualmente se decepciona com o governo, quem já está decepcionado há tempo e quem nunca teve ilusão nenhuma a esse propósito talvez tire proveito de um pequeno e clássico livro de poemas de William Blake (1757-1827) que, pela primeira vez, é traduzido na íntegra para o português.

Trata-se de "Canções da Inocência e da Experiência", livro lançado neste ano pela editora Crisálida, de Belo Horizonte, com tradução de Mário Alves Coutinho e Leonardo Gonçalves.

Alguns poemas de Blake estão presentes em todas as antologias da literatura inglesa. São simples de ler, difíceis de entender e quase impossíveis de traduzir: é o caso de "O Tigre", texto hipnótico, obsessivo, que parece perseguir o seu leitor.

"Tyger Tyger, burning bright,/ In the forests of the night;/What immortal hand or eye,/Could frame thy fearful symmetry?" A estrofe inicial se repete no fim, como que "enjaulando" o poema, e as traduções não conseguem domá-lo completamente. "Tigre, tigre, flamante fulgor/ Nas florestas de denso negror,/Que olho imortal, que mão poderia/ Te moldar a feroz simetria?" – assim era a tradução de Paulo Vizioli, numa coletânea publicada há 20 anos.

Mário Coutinho e Leonardo Gonçalves mantêm a exótica ortografia do original e buscam seguir o ritmo de tambor na selva: "Tygre, Tygre, fogo ativo,/ Nas florestas da noite vivo;/ Que olho imortal tramaria/ Tua temível simetria?".

Melhor; ainda assim, parece mais fácil entender "in the forests of the night" em inglês mesmo, do que acompanhar a pirueta do "nas florestas da noite vivo"...

O poema, em todo caso, continua encadeando suas perguntas: "Que profundezas, que céus,/ Acendem os olhos teus? (...) Que martelo? Que elo? Tua mente/ Vem de qual fornalha ardente?". Em inglês: "In what distant deeps or skies,/Burnt the fire of thine eyes? (...) What the hammer? what the chain,/ In what furnace was thy brain?".

As seis estrofes repetem a mesma inquietação: de onde vem, quem criou, quem forjou esse animal terrível? O tom de ameaça culmina numa última questão: "Did he who made the Lamb make thee?" ("Quem te fez, fez também o Cordeiro?", traduz Paulo Vizioli).

O clima de terror romântico, a concisão e a eletricidade de alguns versos tornam "O Tigre" um poema inesquecível. Mas, de minha parte, sempre me pareceu que havia algo de inconvincente, não sei se de exagerado, de sensacionalista, naquilo tudo... Talvez porque um tigre não me pareça o animal mais terrível, mais demoníaco de toda a criação. A beleza do felino depõe, a meu ver, bastante a favor do Pai Celeste – que talvez não estivesse tão inspirado quando fez o cordeiro. De qualquer modo, um poema sobre o lobo, ou o chacal, talvez funcionasse melhor... Preferências zoológicas à parte, para mim é como se o poema de Blake estivesse tentando dizer uma "outra coisa" que não se revela; sua simplicidade não se entrega, parece fechar-se em si mesma.

Mas "O Tigre" pertence à segunda parte do livro – as "Canções da Experiência". Daí a vantagem da edição completa: é que na primeira parte, as "Canções da Inocência", pode-se ler o poema que faz par com esse. Trata-se, é claro, de "O Cordeiro" e imita a mais boboca e fofinha canção de ninar que alguém possa querer: "Cordeirinho, quem te fez?/ Pois tu sabes quem te fez?/ Deu-te a vida e deu-te pasto,/ Ribeirinho e largo prado;/ Lã macia e sem malícia (...)".

Em inglês, chama a atenção a mesma rima em "ight", que era tão sinistra no caso do tigre: "Little Lamb who made thee/Dost thou know who made thee/ Gave thee life & bid the feed,/ By the stream & o'er the mead; /Gave thee clothing of delight/ Softest clothing wooly bright (...)".

Com esta edição bilíngüe, o leitor pode então apreciar o paralelismo, as simetrias entre os poemas da primeira parte e os da segunda. Nas "Canções da Inocência", lemos versos otimistas sobre um limpadorzinho de chaminés que cumpre, feliz, o seu dever e vai para o Céu. Nas "Canções da Experiência", a realidade é bem outra. O prefácio de Mário Coutinho e Leonardo Gonçalves acrescenta informações importantes sobre aquele ofício, uma das mais horríveis modalidades de trabalho infantil inventadas pelo homem. Só crianças muito pequenas, é claro, podiam entrar nas chaminés para limpá-las; "seus joelhos e cotovelos, usados para subir, sangravam e ficavam em carne viva".

Blake, dizem os prefaciadores, foi sempre considerado um místico, um louco, um ingênuo pelos seus contemporâneos. Há, aliás, uma frase linda da sra. Blake a respeito dele: "Convivo muito pouco com meu marido. Ele está sempre no Paraíso". Gonçalves e Coutinho ressaltam a exatidão convicta com que o poeta denunciava os horrores do capitalismo inglês. Citam, por fim, o crítico Northrop Frye, para quem Blake pode ser lido em qualquer época e parecerá sempre estar se referindo às questões da atualidade.

Questões da atualidade? Não gosto de pensar que a velha "inocência" petista deu lugar à "experiência" destes dias de Delúbio e Marcos Valério. Seria nobilitar, como feitos de maturidade política, os entendimentos estarrecedores do partido com o fisiologismo. Não é também "maturidade", entretanto, o que se elogia quando Palocci e sua equipe recebem o assentimento do mercado? Quem fez Delúbio não fez Palocci?

Mas o poema de Blake, com seus cordeiros e tigres, não me parece vir tão a propósito agora quanto a frase de outro poeta, Paul Valéry: um lobo, diz ele, nada mais é que um cordeiro assimilado.

terça-feira

é bom demais ver os amigos se dando bem

saiu a lista dos vencedores do projeto arte no ônibus. um viva especial para Letícia Féres, Júlio César de Abreu e Silva, Leonora Weissmann e Sílvia Amélia

domingo

olha o blog do POESIAhoje de cara nova aí gente!!!

sexta-feira

a moda da moça bonita

querida mulher
sempre às sete da manhã
cheiro tanto o seu chulé
que às oito em ponto
estou completamente tonto.
nove horas: você me dá um fora
e noves fora
passa as dez e passa as onze
numa armadura de bronze
meio dia e meia
você ainda está de cara feia
e assim passa a sua tarde
com uma cara toda emburrada
enquanto o sovaco arde
decorando tabuada.

chega a hora do recreio
aí você se lembra de mim:
eu sou um cara manero
mas eu fui ao banheiro
e o banheiro estava cheio
uma fila enorme
todo mundo de uniforme.

quando toca o sinal,
é a hora final
pra fazermos as pazes
vou fazendo umas frases
de efeito garantido:
“só vivo contigo,”
“só penso em você,”
“dó lá si dó”
“sol fá mi ré”
“ré ré ré ré.”

mas você não dá bola
nem olha pra mim
um beijo de esmola
que é quase sem fim.
mas nem ligo pra isso
eu sei que você me ama
eu sei que você me quer
e um dia ainda me chama
pra cheirar pra sempre o seu chulé.

quinta-feira

novo porto

o salamalandro acaba de chegar a novo porto. depois de ficar de saco completamente cheio do uol, que cismou que meu blog alcançou o limite máximo, o salamalandro atravessa as barreiras do seu próprio incêndio e vem aportar aqui. mas vamos com calma. tenho ainda que aprender a usar.

quarta-feira

"formigas egoístas morrem no pão." ditado encontrado na entrada de um formigueiro I. os mortos estão no chão? ou são as andorinhas? II. poemas vazios não me transportam dentro de um ônibus III. sua ironia lançada sobre a grama matou todas as formigas

a namorada afirma ser: brasileira negra cidadã bricabraque duralex ave leve inexata contra a moral e os bons costumes.

música

tocar fogo nos próprios cabelos
ao som de uma música
de haendel

tocar fuga aos quatro ventos
tilintando oratórios e cervejas
num bar

blandir bandolins
numa tarde infinitiva sobre o mar

(oxum cantará para me proteger)

repetir este brilho
aos dedos e raios
dansantes de iansã

pois choverá a cântaros

domingo

assoviando blake [visões]

assoviaria blake por ruas mapeadas/ nas muradas do arrudas/ de concreto armado/ as ruas da cidade têm dono/ as putas da cidade não têm dono/ caminharia pelas ruas/ putas da cidade da moral concreto armado/

diria à mendiga e ao mendigo que eles são amados/ na minha orgia por poetas e baratas/ e eles se levantariam de suas calçadas/ e me beijariam/ e com meu beijo/ se sentiriam nutridos/

orgias de poetas, palavras/ gravadas no papel/ como palavras gravadas nas cascas/ das árvores/ ou como palavras gravadas/ nas cascas do corpo/ ou como corpo gravado no tempo/ ou como o tempo gravado no nada/ como um copo vazio/

assoviaria blake/ solitário/ ouvindo o poeta guarani nascido agora aqui/ há duzentos e cinqüenta anos/ e que não está na história/ não quis se chamar árcade ou clássico ou poeta ou romântico/ ou esdrúxula do gênero:/ mas árvore cético mágico cínico/ ou único libertador/ porque não escrevia a liberdade tardia/ onde o prazer amanhecia e entardecia sem dono/

assoviaria blake pelas ruas sem nome/ aspirando o mesmo lugar dourado/ e um girassol/ limitado-ilimitado/ à margem do rio podre/ sem nunca debruçar sobre sua murada/