sábado

ao som de maria bethânia

dia do meu aniversário, fui passar ao lado dela em salvador. tava bonita a festa. e agora sigo ao som de maria bethânia.

dia 4 de Dezembro
(letra e música de tião motorista)

no dia 4 de dezembro
vou no mercado levar
na baixa do sapateiro
flores pra santa de lá

bárbara santa guerreira
quero a você exaltar
é Iansã verdadeira
a padroeira de lá

tirirê, tirirê, relampejou
oh, tirirê, relampejou

tomara que chegue a hora
quero seguir procissão
vou com meu "liforme" branco
levo o meu chapéu na mão

as ladainhas cantadas
pelas beatas de véu
os homens cantam mais forte
pedem proteção ao céu

logo que a santa retorne
eu vou pro samba correndo
vou na barraca da Ornela
tomo uns limão, vou dizendo

pego Antenor, meu compadre
deixa essa cara de bicho
não vou sair desse samba
só saio se for no lixo

terça-feira

nudez da verdade

“eu bem sei”

o desespero não tem asas
o amor também não,
nada de rosto,
não falam,
eu não me mexo
não olho pra eles
não lhes dirijo a palavra
mas estou tão vivo quanto o meu amor e o meu despero

é um poema de paul éluard, olha aí o original:

nudité de la vérité

“je le sais bien.”

le désespoir n’a pas d’ailes,/ l’amour non plus,/ pas de visage,/ ne parlent pas,/ je ne bouge pas,/ je ne les regarde pas,/ je ne leur parle pas/ mais je suis bien aussi vivant que mon amour et que mon désespoir.


man ray

domingo

o gato e o passarinho

um povoado escuta entristecido
o canto de um pássaro ferido
é o único pássaro do povoado
e o único gato do povoado
devorou pela metade o passarinho
e o pássaro para de cantar
e o gato para de ronronar
e de lamber o focinho
e o povoado faz pro passarinho
um maravilhoso funeral
e o gato que foi convidado
segue o cortejo atrás do caixãozinho de palha
onde o pássaro morto está deitado
carregado por uma menininha
que não para de chorar
se eu soubesse que isso iria te causar tanta dor
lhe diz o gato
eu o teria comido inteirinho
e depois te contaria
que o havia visto voar
voar até o fim do mundo
lá onde o longe é tão longe
que ninguém jamais pode voltar
você teria sofrido menos
apenas tristeza e saudade

a gente não deve nunca fazer as coisas pela metade


é um poema de jacques prévert

para fazer o retrato de um passarinho

pintar primeiro uma gaiola
com uma porta aberta
pintar em seguida
algo de bonito
algo de simples
algo de lindo
algo de útil
para o passarinho

pendurar a tela numa árvore
num jardim
num bosque
ou numa floresta
esconder-se atrás da árvore
sem nada dizer
sem se mexer

às vezes o passarinho chega rápido
mas pode também demorar muitos anos
antes de se decidir
não desanimar
esperar
esperar se preciso durante anos
a rapidez ou a lentidão da chegada do passarinho
não tendo nenhuma relação
com o êxito do quadro

quando o pássaro chega
se ele chega
observar o mais profundo silêncio
esperar que o passarinho entre na gaiola
e quando ele entrar
fechar calmamente a porta com o pincel
depois
apagar uma a uma todas as grades
tendo o cuidado de não tocar nenhuma das penas do passarinho

fazer em seguida o retrato da árvore
escolhendo o mais belo de seus galhos
para o passarinho
pintar também a verde folhagem e a frescura do vento
a poeira do sol
e o barulho dos bichos do mato no calor do verão
e depois esperar que o passarinho se decida a cantar

se o passarinho não canta
é mal sinal
sinal de que o quadro vai mal
mas se ele canta é bom sinal
sinal de que você pode assiná-lo
então você retira docemente
uma das penas do passarinho
e escreve seu nome no canto do quadro.


["pour faire le portrait d'un oiseau"
poema de jacques prévert
temporariamente traduzido por mim]

peindre d'abord une cage/avec une porte ouverte/peindre ensuite/quelque chose de joli quelque chose de simple/quelque chose de beau/quelque chose d'utile/pour l'oiseau/placer ensuite la toile contre un arbre/dans un jardin/dans un bois/ou dans une forêt/se cacher derrière l'arbre/sans rien dire/sans bouger/parfois l'oiseau arrive vite/mais il peut aussi mettre de longues années/avant de se décider/ne pas se décourager/attendre/attendre s'il le faut pendant des années/la vitesse ou la lenteur de l'arrivée de l'oiseau/n'ayant aucun rapport/avec la réussite du tableau quand l'oiseau arrive/s'il arrive/observer le plus profond silence/attendre que l'oiseau entre dans la cage/et quand il est entré/fermer doucement la porte avec le pinceau/puis/effacer un à un tous les barreaux/en ayant soin de ne toucher aucune des plumes de l'oiseau/faire ensuite le portrait de l'arbre/en choisissant la plus belle de ses branches/pour l'oiseau/peindre aussi le vert feuillage et la fraîcheur du vent/la poussière du soleil/et le bruit des bêtes de l'herbe dans la chaleur de l'été/et puis attendre que l'oiseau se décide à chanter/si l'oiseau ne chante pas c'est mauvais signe/signe que le tableau est mauvais/mais s'il chante c'est bon signe signe que vous pouvez signer/alors vous arrachez tout doucment/une des plumes de l'oiseau/et vous écrivez votre nom dans un coin du tableau.

sábado

revista etcetera #20 - no ar!!!!

já está no ar a revista etcetera número 20. como sempre, repleta de belas presenças, belos textos, fatos, entrevistas, poesia, acontecimentos. destaque especial para o comentário sobre o livro leve de marcelo sahea, a entrevista com norma gabriel e a coleção de 51 mendicantos, de paulo de toledo. vida longa à etcetera!

janine 1

pourquoi tu m'appelles janine
alors que j' m'appelle thérèse ?

pourquoi tu m'appelles ardèche
alors que j' m'appelle corrèze ?

pourquoi tu m'appelles triangle
alors que j' m'appelle trapèze ?

pourqoi tu m'appelles louis xv
alors que j' m'appelle louis xvi ?

pourquoi tu m'appelles oeuf coq
alors que j' mappelle omelette ?

pourquoi tu m'appelles hautbois
alors que j' m'appelle trompette ?

pourquoi tu m'appelles don juan
alors qu' j'ai une p'tite quéquette ?

pourquoi tu m'appelles képi
alors que j' m'appelle casquette ?


(por que você me chama de janine,
quando eu me chamo thérèse?

por que você me chama de ardèche
quando eu me chamo corrèze

por que você me chama de triângulo
quando eu me chamo trapézio

por que você me chama de ovo quente
quando eu me chamo omelete

por que você me chama de oboé
quando eu me chamo trompete?

por que você me chama de don juan
quando eu tenho um pingolete

por que você me chama de quépi
quando eu me chamo capacete?)

tá no disco le fil. de camille.
(procure o site na próxima mensagem)

camille - le fil

le fil. música boa por aqui tem de sobra. o brasil é privilegiado. um ouvido musical. que não é normal. já dizia caetano cantando. digo isso, porque tenho ouvido muita canção francesa contemporânea. e a conclusão que chego é que música boa de verdade, é raro.
nas minhas aventuras de professor de francês, encontrei muito pouca coisa que eu achasse realmente boa. é que o parâmetro de comparação é alto. em língua brasileira, é comum música e letra se casarem sem forçação de barra. mas em língua francesa, vi que os melhores cantores são aqueles de origem não européia. o problema não é a língua, é outra coisa. não arrisco a tentar explicar. e nós sabemos que não foi sempre assim(vide piaf & yves montand, satie & debussy, trovadores renascentistas & medievais).
mas tem quem fuja à regra. um cara chamado "M" e a ex-modelo carla bruni são bons exemplos. mas quero falar de um trabalho que me comoveu especialmente. estou falando do disco le fil da excelente cantora camille. trata-se de um disco que soa a eletrônico, mas que foi todo gravado com instrumentos acústicos. instrumentos não tradicionais. sons inventados. sons não-sons. feitos de boca, peito, sopro, mão. às vezes umas teclas. mais raramente.
ao ouvirmos "au port", a surpresa não é tanta quanto a que temos ao assistir o clipe. só pude perceber que ali não tem nenhum instrumento a não ser o piano quando vi a música sendo executada pela cantora e sua banda: 2 mecs que seguram um som que preenche todo o espaço.
isso sem falar nas letras que se comportam de maneira inventiva e divertida (janine 1). roçam a boa poesia francesa. não são poemas, sendo. deixo uma pequena palhinha, mas o conselho mesmo é que fuce no site-fio dela. lá tem clipe, palhinhas, brincadeiras, fotos e mais mais. vá lá:

quinta-feira

i want! i want!

de william blake

terça-feira

cordel do fogo encantado, joão cabral de melo neto e os bonecos

"o amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. o amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. o amor comeu meus cartões de visita. o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome. "
joão cabral de melo neto

no último sábado, na praça da estação, a coisa ficou bonita. eu e a patrícia fomos ver o sesi bonecos do brasil. nunca tínhamos visto um show do cordel do fogo encantado e fiquei impressionado. música de qualidade, muita gente bonita, muita dansa, muita poesia e muita alegria tudo junto no mesmo horário e no mesmo lugar.
só um comentário: joão cabral nunca podia imaginar que o poema dele seria falado por uma banda de rock'n roll, em plena praça da estação, pra uma platéia repleta de jovens e adolescentes. saravá lirinha!

o sábia no sertão,
quando canta me comove,
passa três meses cantando
e sem cantar passa nove
porque tem a obrigação
de só cantar quando chove

sábado

palavras do revolucionista bernard shaw



um revolucionista é aquele que deseja descartar a ordem da existência social e tentar outra.


auto-sacrifício

auto-sacrifício habilita-nos a sacrificar outras pessoas sem a menor vergonha.

se você começa a sacrificar-se por aqueles que ama, acaba odiando aqueles para quem você se sacrificou.


civilização

a civilização é uma doença produzida pela prática de construir sociedades com material podre.

aqueles que admiram a civilização moderna costumam identificá-la com a máquina a vapor e o telégrafo elétrico.

aqueles que entendem a máquina a vapor e o telégrafo elétrico gastam suas vidas tentando substituir-se por algo melhor.

a imaginação não pode conceber um criminoso mais vil que aquele que construiria outra londres como a atual, nem um maior benfeitor que aquele que a destruiria.


experiência

os homens são sábios em proporção, não à sua experiência, mas à sua capacidade para a experiência.

se pudéssemos aprender da mera experiência, as pedras de londres seriam mais sábias do que os mais sábios homens.


razão

o homem racional adapta-se ao mundo: o irracional persiste tentando adaptar o mundo a si mesmo. portanto, todo progresso depende do irracional. o homem que ouve a razão, está perdido: a razão escraviza todos aqueles cuja mente não é forte o bastante para dominá-la.

quarta-feira

revista roda nº2 - eparrei!



e eis que chega a revista roda número 2. lindona, como a primeira. gratas surpresas: presença de gente boníssima: antônio risério, benjamin abras, chacal, george cardoso, jackie kay, paulo leminski e virna teixeira. só pra começar a listas dos camarás.
a imagem da capa, é tirada de uma escultura de jorge dos anjos, que ficou exposta na praça da estação durante o mês de maio, como parte das atuações do fan - festival de arte negra de belo horizonte.
quem quiser saber mais sobre a revista, procure o jaguadarte, ou então, vá até a fundação municipal de cultura. (rua sapucaí, 571 - ed. chagas dória, bhmg. tel.: 3277 4621)

terça-feira

música fora de foco




começa hoje e vai até o dia 20 de agosto, na fundação de educação artística o projeto "música fora de foco". a mostra traz um grupo de 6 artistas ou grupos que oferecem de diferentes maneiras, sua forma de renovar a linguagem musical.



veja a programação (sempre às 20h30):

terça-feira, dia 15: felipe amorim
quarta-feira, dia 16: o grivo
quinta-feira, dia 17: paulo álvares
sexta-feira, dia 18: tato taborda e alexandre fenerich
sábado, dia 19: chelpa ferro
domingo, dia 20: pex baa


a fundação de educação artística fica na rua gonçalves dias, 320 - funcionários (quase esquina com avenida getúlio vargas)

segunda-feira

as destrezas do amor

o amor é o alcance da mão
é tudo aquilo que ele roça
quando estica os braços
quando estica os dedos

produtos importados direto
do país das surpresas do país dos medos
delícias sobre a mesa ou ao contrário
melecas em geléia para o piquenique

o amor é tudo aquilo que a mão toca
seja com a destra seja com a sinistra
seja com a boca seja com a orelha
seja com a luva seja com a vista

ninguém reclama quando o amor ama
no meio da praça não é atentado
se o beijo escandaliza a massa
ou se o fogo incendeia o ministério público

ninguém se mete quando a moça
extasiada pela língua do poeta
inaugura uma estátua fátua
o beijo de rodin na praça principal

ninguém se liga quando a eletricidade
da cidade se embanana porque
o camarada ama ou porque a menina
agora toda nua é a culpada do apagão

o amor é um camarada raro
que brinca com ratos pela calçada
e caça palavras pelos cruzamentos
quebrando cabeça no meio dos carros

o amor com seus desastres
derrama o chocolate sobre a roupa dos amantes
obrigados a matar serviço reinventam
a manhã agora num brinquedo novinho em flor

são as destrezas do amor
tropeça todo dia nos seus próprios mortos
bebe ri dança e balança e até morre com eles
é por isso que ele nunca está só

os desastres do amor

o amor está ao alcance da mão
então você estica os braços
tenta colhê-lo e ao fazê-lo
o empurra para mais distante

a distância te ajuda a compreendê-lo
quer dizer, a tê-lo entre os dedos
mas entre os dedos não basta
então você estica os braços, quer acolhê-lo

e ao fazê-lo, empurra ainda
para mais distante: a distância
te completa de angústias
você tem que declarar seu desespero

o amor quer ser cantado a cântaros
você se derrama nas águas do amor
e o amor é tudo ao redor
você é rio você é vento luz do sol você é ar

e te pedem que brilhe
como ao meio dia
então você brilha
e a sua luz ofusca os olhos do amor

agora é guiar aquele que você procurava
você cego procura o caminho certo
e guia quem tem os olhos foscos
mas não há mais tempo:

você defendeu o amor em todas as guerras
travou lutas contra ele em favor dele mesmo
e da única causa na qual pôde crer
e assim o deixa cada dia mais distante

mas isso não é tudo
o amor está em toda parte, você
quer amá-lo quer beijá-lo degustá-lo
no entanto, você está só

domingo

uma mulher com movimentos de rio

uma mulher com movimentos de rio
com transparentes trejeitos de água
uma menina de água
onde se lê o que passa e não retorna
um pouco de água onde os olhos bebam
onde os lábios de um só trago bebam
a árvore a nuvem o relâmpago
eu mesmo e a menina.


poema de octavio paz, em "semillas para un sueño"

terça-feira

poesia & cidade: formas de reconfiguração do espaço urbano

e na última edição da zip: zona de invenção poesia &, um assunto que dá o que falar. teremos a ilustríssima presença dos nossos camaradas renato negrão, mara de aquino, rita medeiros e waldemar euzébio. artistas que pensam a cidade, o espaço urbano de maneiras muito diferentes entre si. o jaguadarte anuncia que tão cedo não rola outra. quem quiser ver mais sangue na discussão, clique aqui.

quarta-feira

poesia & tecnologia: o racionalismo sensível

na próxima sexta, dia 23, às 18:30, acontece mais uma edição da zip: zona de invenção poesia &. no comando: ricardo aleixo. os convidados: álvaro andrade garcia, antônio sérgio moreira, benjamin abras, marcelo dolabela & oficina de experimentação poética e grupo oficcina multimédia. o tema: poesia e tecnologia: o racionalismo sensível.
ah, e o local: foyer do teatro francisco nunes, no parque municipal. imperdível.

sexta-feira

zip: zona de invenção poesia &




Hoje, sexta-feira, 16/6, às 18h30, no foyer do Teatro Francisco Nunes, acontece a segunda edição da Zona de Invenção Poesia & (ZIP). Estruturada como um programa de auditório, a ZIP, nesta semana, tem como tema “Poesia & Prosa: James Joyce, Guimarães Rosa”, como forma de homenagem a esses dois prosadores-poetas.
a dica é do jaguadarte. para mais informações: www.jaguadarte.zip.net

segunda-feira

eu imagino ou sonho de menina

imagino que você está ali
tem o sol
e este pássaro perdido de trinado tão estranho
diríamos uma tarde de verão
clara. sinto que estou ficando tola, tão tola
tenho imenso desejo de me deitar entre o feno,
com manchas de sol sobre a pele nua
asas de borboleta em largas pétalas
e toda espécie de insetos do planeta
ao meu redor

este é mais um poema de léopold sédar senghor

sexta-feira

semana cultural do senegal

chico césar já dizia: ser negão no senegal deve ser legal!
bem, na semana que vem começa a semana cultural do senegal. o evento acontece no centro cultural ufmg, de segunda a sexta com programação intensa. haverá uma comemoração do centenário de cimento do poeta e estadista léopold sédar senghor. o salamalandro se apresenta na segunda no sarau de abertura. e na terça, participa de uma mesa redonda sobre a vida e a obra desse poeta excepcional, criador de muita coisa bacana no século xx. além disso, a casa áfrica comemora os 25 anos da mazza edições. confira a programação:
De 22 a 26 de maio
Centenário de Nascimento Léopold Sédar Senghor & 25 anos Mazza Edições
Local: Centro Cultural da UFMG (av. Santos Dumont, 174, centro, BH)
DIA 22/05 – SEGUNDA-FEIRA19 h - Abertura Oficial da Semana e da exposição “Os Dentes do Leão e o Sorriso do Sábio” (Gueule du Lion et Sourire du Sage). Entrada franca.
20 h – Sarau poético em homenagem a Léopold Sédar Senghor, com os poetas e artistas Waldemar Euzébio, Benjamin Abras, Leonardo Gonçalves, Renato Negrão, Dóris Santos, Sérgio Fantini, Sérgio Pererê, Makely Ka, Grupo Poesia Hoje e a Orquestra de Berimbaus Capoeira Raízes. Entrada Franca
DIA 23/05 – TERÇA-FEIRA10h – Palestra Hora do Griot para as escolas , com Ibrahima Gaye (Economista/ Universidade Cheikh Anta Diop–Senegal / Fundador Centro Cultural Casa África). – Inscrições de grupos infanto-juvenis pelo telefone (31) 2127-0301 / 3344-1803. Entrada Franca
15h - Palestra Hora do Griot para as escolas, com Ibrahima Gaye.
16h - Mostra de Cinema Africano - Cine Casa África: A Negritude na Tela. Entrada franca
DIA 24/05 – QUARTA-FEIRA
10h - Palestra Hora do Griot para as escolas, com Ibrahima Gaye. Entrada franca
15h - Palestra Hora do Griot para as escolas, com Ibrahima Gaye. Entrada franca
16h - Mostra de Cinema Africano - Cine Casa África: A Negritude na Tela. Entrada franca
DIA 25/05 – QUINTA-FEIRA
10h - Palestra Hora do Griot para as escolas, com Ibrahima Gaye. Entrada franca
11h30 a 13h - Palestra A Representação do Conto e do Mito na Organização Educacional Senegalesa - Uma Leitura do Conto L´Os de Mor Lam, do poeta-contista senegalês Birago Diop com o prof. Amadou Abdoulaye Diop. Entrada franca
15h - Palestra Hora do Griot para as escolas, com Ibrahima Gaye. Entrada Franca
16h - Mostra de Cinema Africano - Cine Casa África: A Negritude na Tela. Entrada franca
19h - Lançamentos Mazza Edições 25 Anos: Coleção Olerê, com o livro “O Congado para Crianças” (Edimilson de Almeida Pereira/Ilustração: Rubem Filho); a Coleção Griot Mirim, com “Koumba e o Tambor Diambê” (Madu Costa/Ilustração: Rubem Filho), “Meninas Negras” (Madu Costa/Ilustração: Rubem Filho) e “Que Cor é a Minha Cor?” (Martha Rodrigues/Ilustração: Rubem Filho), e os livros “Becos da Memória” (Conceição Evaristo) e “A Fuzarca de Noé” (Ronaldo Simões Coelho/Ilustrações: Rubem Filho). Entrada Franca
DIA 26/05 – SEXTA-FEIRA
12h30 - Projeto 12:30 com a Companhia Baobá de Arte Afro-brasileira. Entrada franca
SEMINÁRIO: Leopold Sedar Senghor + Pensamentos e Movimentos da Afro-Diáspora
Debates sobre vida, obra e influência de Senghor na afro-diáspora. Coordenação: Prof. Amadou Abdoulaye Diop (Doutorando em Literatura Comparada na UERJ) - Inscrições pelo telefone (31) 2127-0301 / 3344-1803. Entrada franca
23/05 – 19:30h - Mesa-Redonda 1: “Vida e Obra do Bardo e Imortal Léopold Sédar Senghor”Composição: George Souza Cardoso, Ousmane Sane (Mestre em Comunicação Social/UFMG) e Leonardo Gonçalves (Poeta e Tradutor da obra de Senghor). Marcos Cardoso
Mediador: Amadou Marcos Cardoso (Mestre em História/UFMG)
24/05 – 19:30h Mesa-Redonda 2: “A Negritude e Suas Representações no Espaço e no Tempo “Composição: Maria Mazarello (Editora, Mestre em Editoração e Comunicação Visual pela Universidade Paris 13/França), Benilda Regina Brito (Psicopedagoga, Gerente de Educação Regional Norte de Belo Horizonte e Coordenadora da ONG Nzinga) e Eurico Josué Ngunga (Doutorando em Antropologia - IUEA/EUA).
Mediador: Amadou Abdoulaye Diop.
25/05 – 19:30h - Mesa-Redonda 3: “Senghor e a Crítica Literária”
Composição: Maria Nazareth Fonseca (Doutora em Literatura Comparada/UFMG), Íris Amâncio (Escritora, Doutora em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa/UFMG), Amadou Abdoulaye Diop e Ricardo Aleixo (Poeta, Escritor, Músico e Curador do Festival de Arte Negra - FAN).
Mediador: George Cardoso (pós-graduando em Estudos Africanos e Afro-brasileiros pela PUC Contagem e Diretor de Comunicação do Centro Cultural Casa África)
Minicurso História da África + Palestra sobre História do SenegalPeríodo: 23 a 26 de maio (terça a sexta-feira)
Professores senegaleses: Ousmane Sane (Mestre em Comunicação Social/UFMG) e El Hadji Diallo (Jornalista/Universidade Gama Filho – RJ)
Nº vagas: 30 alunos por turma
Turmas:
Manhã – Terça e quarta-feira - 9 às 13 horas; quinta e sexta-feira – 9 às 11 horas Tarde – Terça e quarta-feira - 15 às 19 horas; quinta e sexta-feira – 15 às 17 horas
Carga horária: 12 horasInvestimento: R$ 120,00 (inteira) e R$ 60,00 (Meia-entrada para universitários ou mediante doação de um livro de temática afro)
Inscrições pelo telefone (31) 2127-0301 / 3344-1803
7° Festa de Independência do Senegal
Sábado dia 03 de junho, a partir de 22h – Local: Gonguê
Ingressos antecipados: R$ 15,00 – Portaria: R$ 20,00Informações e vendas: (31) 2127-0301 / 3344-1803Informações: (31) 3344-1803 / 2127-0301 (Casa África) 3238-1078 / 3238-1079 (C.C. UFMG)

domingo

autofagia

está chegando na praça a revista autofagia. para saber mais informações, consulte o blogue do bruno brum (www.saborgraxa.blogspot.com). é isso aí. a programação você vê aqui mesmo.


programação - lançamento da revista de autofagia

18/05 [quinta] – 19h

debate: “a produção contra-industrial”
com estrela leminski [PR], luciana tonelli [MG], marcelo sahea [RJ] e nicolas behr [DF]

centro de cultura de bh [r. da bahia, 1149 - centro]

19/05 [sexta] – 19h

lançamento da revista e dos livros “cupido: cuspido e cscarrado”, de estrela leminski; “leve”, de marcelo sahea e “umbigo”, de Nicolas Behr.

Livraria Quixote [R. Fernandes Tourinho, 274 - Savassi]


20/05 [sábado] – 20h

Sarautofágico – outras deixas de música e literatura
Música e poesia com participação de músicos e colaboradores da Revista de Autofagia

Pastel de Angu [R. Alphonsus Guimarães, 62 - Santa Efigênia]

sexta-feira

negritude césaire, negritude senghor

minha negritude não é uma pedra, sua surdez gritada contra o clamor do dia
minha negritude não é uma nódoa de água morta no olho morto da terra
minha negritude não é nem uma torre nem uma catedral
ela mergulha na carne rubra do chão
ela mergulha na carne ardente do céu
ela perfura o golpe opaco de sua destra paciência

aimé césaire – do cahier d’un retour au pays natal


minha negritude não é sono da raça ela é sol do espírito, minha negritude é ver & viver
minha negritude é enxada na mão, lança em punho
recado. não é questão de beber de comer o instante que passa
azar se me enterneço sobre as rosas do cabo verde!
minha tarefa é a de despertar o meu povo aos futuros flamejantes
minha alegria de criar imagens para nutri-lo, oh luminosidades ritmadas da Palavra!

léopold sedar senghor – élegie des alizés

domingo

notas sobre a negritude

pode procurar por aí. o termo negritude é encontrado por toda parte. uma banda de pagode, um portal de web, uma linha fashion, coluna reservada para assuntos afro no jornal. poucos sabem que a palavra se espalhou por todo o mundo por causa de um movimento literário ocorrido nos anos 30, sob a tutela de três grandes escritores: aimé césaire, leon gontram damas e léopold sédar senghor.

tudo começou assim: um jovem estudante estigmatizado pela cor da pele publica no jornal l’étudiant noir um artigo defendendo a beleza e o valor de sua ‘negritude’. uma atitude repleta de mandinga e de gingado, pois estava usando um termo pejorativo a seu próprio favor. quando léopold sédar senghor leu o artigo, ficou empolgadíssimo, pois ninguém conhecia melhor do que ele a nobreza do seu povo. sintetizou: ‘negritude: o conjunto dos valores de civilização do povo africano.’ o termo transformou-se num conceito. e léopold foi quem levou a expressão às suas mais profundas conseqüências.

senghor nasceu em 1906 e publicou muita poesia, muita pesquisa em diversas áreas (lingüística, antropologia, sociologia, teoria literária) entre os anos 30 e os anos 50. em 1960 recebeu uma proposta dos líderes políticos do senegal: que se tornasse o presidente do país. e com uma vantagem: poderia governar enquanto quisesse. entre 1961 e 1980, quando já era um grande intelectual e poeta, senghor se tornou um dos maiores estadistas que o mundo já conheceu. e qual era o primeiro e grande conceito teórico que o norteou como político? quem responder marxismo, leninismo, maoísmo, castrismo, estará perdendo tempo: o conceito mestre da política senghoriana se chamava ‘negritude’.

a essas alturas, a ‘negritude’ já havia se transformado e crescido a proporções fenomenais. o termo, com o tempo, deixou de ser a afirmação de uma raça pra ser a exaltação de uma postura universalizante. o africano está em toda parte. o conceito se desdobrou depois em ‘mestiçagem’, ainda com o caráter inicial de afirmação dos valores de um povo estigmatizado pela história, mas com ênfase cada vez maior na questão cultural. e já começavam a surgir na própria áfrica movimentos e manifestações que contestavam a ‘négritude’. é o que fez por exemplo wole soyinka, autor nigeriano, hoje prêmio nobel de literatura: “um tigre não precisa declarar sua tigritude, ele salta sobre a sua presa”. o que em todo caso não é senão, um desdobramento da idéia inicial, agora interiorizada no movimento do corpo.

homenagens

no mês de março deste ano, publiquei na revista roda – arte e cultura do atlântico negro uma série de 5 poemas bastante representativos de léopold sédar senghor. é que em 2006 o poeta completaria 100 anos. e não esteve longe de completar, pois faleceu há apenas cinco anos. na revista, os editores ainda lembram de um festival mundial de arte negra que aconteceu em 1966, sob a chancela do então presidente do senegal (este festival terá sua segunda edição no ano que vem em dakar). a publicação foi portanto uma das primeiras manifestações brasileiras em comemoração ao centenário do poeta. mas não acaba por aí. a casa áfrica está organizando a ‘semana de cultura do senegal’ que acontece entre os dias 22 e 29 de maio de 2006. na ocasião haverá sarau, exposição, mesas redondas e outras coisitas mais em homenagem a esse grande camarada senegalês. fiquem atentos.

algumas informações sobre a poesia do célebre desconhecido

no brasil, pouquíssima gente sabe da existência de senghor. embora seja considerado uma das mais lúcidas cabeças do século, e a par disso, um dos maiores poetas da língua francesa, o brasileiro não teve acesso ao pensamento e à poética dele. uma única edição de seus poemas apareceu em 1969 pela extinta grifo edições em tradução de gastão jacinto gomes. uma vasta amostra da lírica senghoriana, com apenas dois defeitos: a edição não é bilíngüe, e além disso lá só se encontram poemas escritos até 1969: como não houve edição posterior, nada foi acrescentado e a edição definitiva da oeuvre poétique apareceria somente em 1989 com duas séries de ótimos poemas escritos nos anos 70 (como é o caso da “elegia para a rainha de sabá”) e outra de “traduções” de poemas tradicionais africanos (cantos banto, peul, bambara...).

portanto, falta muito ainda para oferecermos ao público brasileiro um panorama claro de sua obra.

outro ponto curioso é que sua poesia se insere numa tradição pouco explorada no brasil. nem mesmo o nosso cruz e sousa pode ser comparado com ele. a poesia dele é descendente direta de walt whitman e de paul claudel: versos longuíssimos, reflexões místico-cristãs, tradições, profecias e vozeirões (ao lado de flores da mais pura delicadeza:

pérolas

pérolas brancas
lentas goteletas
goteletas de leite fresco,
luzinhas fugitivas ao longo dos fios do telégrafo,
ao longo dos longos dias monótonos e grises!

a qual paraíso? a qual paraíso?
luzinhas primeiras da minha infância
jamais reencontrada…


perles

perles blanches,
lentes gouttelettes,
gouttelettes de lait frais,
clarets fugitives le long des fils télégraphiques,
le long des longs jours montones et gris!

à quel paradis? à quel paradis?
clartés premières de mon enfance
jamais retrouvée…)

pouquíssimas vezes se preocupa com a rima, jamais com a métrica. uma poesia que se irmana com o trabalho de neruda e saint john perse, cujos versos se aproximam da prosa.

ao mesmo tempo, a sua poesia é rica em sonoridades, aliterações, e principalmente, jogos visuais, fanopéia. como traduzir um verso como “l’ouragan arrache tout autour de moi”? g. j. gomes traduz assim: “o furacão tudo arranca ao meu redor”. há exatidão na imagem, mas o som do verso de cinco acentos sucessivos se perdeu. façamos mais uma tentativa vã:

o furacão

o furacão arrasta tudo em torno de mim
e o furacão arrasta em mim folhas e palavras fúteis.
turbilhões de paixão silvam em silêncio
mas paz sobre o tornado seco, ao final do inverno!

tu, vento ardente vento puro, vento de primavera, queima toda flor todo pensamento
vão quando recai a areia sobre as dunas do coração.
serva, suspende teu gesto de estátua e vós, crianças, vossos jogos e risadas de marfim.
tu, que ela consuma tua voz com teu corpo que ela seque o perfume de tua pele
a chama que ilumina minha noite, como uma coluna e como uma palma.
abrasa meus lábios de sangue, espírito, sopra sobre as cordas da minha kora
que se erga o meu cantar, puro como o ouro de galam.


l’ouragan

l’ouragan arrache tout autour de moi
et l’ouragan arrache en moi feuilles et paroles futiles
des tourbillons de passion sifflent en silence
mais paix sur la tornade sèche, sur la fuite de l’hivernage!

toi vent ardent vent pur, vent-de-belle-saison, brûle toute fleur toute pensée vaine
quand retombe le sable sur les dunes du coeur.
servante, suspends ton geste de statue et vous, enfants, vos jeux et vos rires d’ivoire.
toi, qu’elle consume ta voix avec ton corps, qu’elle sèche le parfum de ta chair
la flamme qui illumine ma nuit, comme une colonne et comme une palme.
embrase mes lèvres de sang, esprit, soufflé sur les cordes de ma kôra
que s’élève mon chant, aussi pur que l’or de galam.

sexta-feira

mulher negra

mulher nua, mulher negra
vestida de tua cor que é vida, de tua forma que é beleza!
eu cresci a tua sombra; a doçura de tuas mãos vendava meus olhos.
e eis que no ventre do verão e do meio-dia, eu te descubro, terra prometida, do alto de
um alto colo calcinado
e tua beleza me acerta em pleno peito, como o relâmpago de uma águia.

mulher nua, mulher obscura
fruto maduro de carne firme, sombrios êxtases do vinho negro, boca que bota lírica a minha boca.
savana dos horizontes puros, savana que freme às carícias quentes do vento leste
atabaque esculpido, atabaque tenso que rosna sob os dedos do vencedor
tua voz grave de contralto é o cântico espiritual da amada.

mulher nua, mulher obscura
azeite que não crispa nenhum sopro, azeite plácido nos flancos do atleta, nos flancos dos príncipes do mali
gazela de laços celestes, as pérolas são estrelas sobre a noite de tua pele
gozo de jogos espirituosos, os reflexos do ouro rubro sobre tua pele que rebrilha
à sombra de teus cabelos, se esclarece minha angústia aos sóis próximos de teus olhos.
mulher nua, mulher negra
eu canto tua beleza que passa, forma que fixo no eterno
antes que o destino cioso te reduza a cinzas para nutrir as raízes da vida.

a tradução é minha e está publicada na revista roda nº1. o poema é de léopold sédar senghor. para ler o original, clique aqui. este poema é considerado o grande hino do continente africano, onde a áfrica é comparada com uma mulher extremamente sensual. eu comparo dialeticamente este poema com um poema de cruz e sousa: afra. um dia eu ainda explico por quê.

medusa

Cortei a cabeça da Medusa
por inveja. Quis eu mesmo o olhar
sem olhos que vê e se recusa
a ser visto e desse modo faz
das demais pessoas pedras: pedras
sim, preciosas, da mais pura água,
onde o olhar mergulha até a medula,
diáfanas, translúcidas, cegas.
Refleti muito, antes. Na verdade
estes meus olhos provêm de carne
de mulher, não do nada imortal
da divindade. Como encarar
com eles a Górgona? Mas mal
pensando assim, lembrei ser mortal
ela também: e seu pai é um deus
do mar mas eu sou filho de Zeus.
Mesmo assim não quis enfrentá-la olhos
nos olhos. Peguei emprestado o espelho
da minha irmã e adentrei o cômodo
da Medusa de soslaio, vendo
tudo por reflexos: o seu corpo
em terceiro plano, atrás de heróis
de pedra e dos meus olhos esconsos
em primeiríssimo. Eis o corte
da lâmina especular: do lado
de cá eu, sem corpo, a olhar; do outro
lado eu, olho olhado, olho enviesado
e rosto e corpo entre muitos corpos,
um dos quais o dela. A mesma lâmina
decapitou-a também: do lado
de cá guardo seu olhar e faina;
e lá jaz seu vulto desalmado.
Mas nada é tão simples. Do pescoço
cortado nasceu um cavalo de asas
(é que o deus do mar a engravidara)
e mergulhou no horizonte em fogo
crepuscular. Dizem que, no monte
Hélicon, seu coice abriu uma fonte.
A ser não sendo, de madrugada
levanto com sede dessa água.


é um poema de antônio cícero, que esteve em bh na última terça-feira para as terças poéticas. achei no blogue da letícia

quarta-feira

semana desligue a sua tv

domingo

novas aventuras

aí estão os meus amigos com novas perspectivas bloguísticas. aliás, de um tempo pra cá tem uma turma bacana mudando de endereço pra melhor. primeiro a lenise regina, o george cardoso, a letícia féres (confiram aí do lado na sala de blogues). e agora mais o renato negrão (www.nocalo.blogspot.com) e o marcelo terça-nada (www.virgulaimagem.redezero.org). se me baixasse o telê santana hoje, eu montaria um time com essa turma. então: saravá!

coisas que têm feito a cabeça do salamalandro

oriki orixá. antônio risério.

antônio risério é um baiano retado capaz de conciliar extremo rigor com paixão fulminante. antropologia? filosofia? poesia? o livro trata de tudo isso sem perder a profundidade em nenhum instante.
alguém pergunta: e o que é um oriki? o mais fácil seria dizer que são poemas de elogio de uma entidade, personalidade ou (no caso dos traduzidos neste livro) um orixá. mas se isso respondesse a tudo, nada justificaria o longo e curioso comentário que precede os poucos e exemplares orikis que aparecem ao final do livro.
o assunto faz o leitor curioso se lembrar da faceta mais esquecida da nossa formação enquanto povo: a áfrica. e aqui ela aparece em trono de brilhos e cores.


bantos malês e identidade negra. nei lopes
e por falar em áfrica, em se tratando do segundo maior continente do planeta, pode-se dizer que sabemos ainda menos da nossa origem banto. aliás, não sabemos quase nada sobre os povos africanos em geral. acho que eu já disse isso por aqui.
este livro elucida coisas que eu nunca supus:
1. dos negros que vieram para o brasil, boa parte era de origem muçulmana (conhecidos como malês).
2. os povos bantos são considerados povos inferiores pela historiografia brasileira.no entanto, representaram, na história, uma das maiores resistências ao poderio europeu. (destaque para a rainha que ficou conhecida por nzinga. reinando desde matamba, angola, foi o osso duro que portugual nunca conseguiu roer de todo).
3. se a nossa fala se distingue da fala de portugal, o principal motivo, ao que parece, é a presença dos povos banto no brasil.
de modo que este livro tem me oferecido um novo tempo mítico para as minhas concepções de mundo. (quem quiser saber mais sobre o camarada nei lopes, procure por aí. já postei outro dia um comentário sobre ele).

detalhe: este livro encontra-se esgotado em todo o brasil. mas sei de uma promessa do autor de uma edição revista. saravá!


personas sexuais - arte e decadência de neffertiti a emily dickinson. camille paglia.
este é um desses livros bons para derrubar conceitos fáceis e pré-estabelecidos no ocidente. de fato, em geral, a tendência é escolher por uma saída racional para as questões que angustiam o ser humano. mas camille é seguidora de sade. propõe uma solução dilacerante e dionisíaca para o famoso sonho de rouseau de que "homem é bom por natureza, é o meio que o estraga" - origem de todas as utopias modernas. história da arte. história da sexualidade. história da literatura. antropologia. psicologia. personas sexuais é tudo isso e ainda mais.
deixo aqui apenas uma frase, que aliás, gosto muito: "o dionisíaco não é nenhum piquenique."
detalhe: para variar, o livro encontra-se também esgotado em todo o brasil.


el arco y la lira. octavio paz.
quem me conhece já sabe: este livro me acompanha há pelo menos uns cinco anos. é meu livro de cabeceira. o maior e melhor testemunho de um apaixonado pela linguagem das linguagens que já tive em mãos. perto dele, o abc da literatura do ezra pound fica no chinelo. afinal, estamos falando de um dos maiores intelectuais da américa latina. no tratado, paz concilia densa poesia com profunda dissertação. como as outras coisas que mexem comigo, nele também você encontra: poesia, filosofia, antropologia, crônica de costumes, teoria literária. e pora aí vai.
a primeira edição deste livro foi escrita em 1955. desde então, octavio paz fez algumas atualizações, mas creio que as principais idéias não mudaram muito. e é de uma atualidade desconcertante.
como encontrar? a edição castelhana encontra-se com facilidade. a brasileira não. publicada há uns 20 anos pela nova fronteira, está hoje completamente esgotada. aquele que a encontrar terá nas mãos uma raridade. agora, para os apaixonados pela linguagem, um conselho: leia o livro no original.

da série poetas que possuem luz própria

álvares de azevedo

da série poetas que vivem do que fazem (reprise)

carlos drummond de andrade

sábado

da série poetas que acreditam num mundo melhor (reprise)

vladímir maiakóvski

da série poetas que acreditam num amanhã melhor (reprise)

torquato neto

sexta-feira

da série poetas que recebem a visita do cobrador

arthur rimbaud

pranto para comover jonathan

os diamantes são indestrutíveis?
mais é meu amor.
o mar é imenso?
meu amor é maior,
mais belo sem ornamentos
do que um campo de flores.
mais triste do que a morte,
mais desesperançado
do que a onda batendo no rochedo,
mais tenaz que o rochedo.
ama e nem sabe mais o que ama.

é um poema da adélia prado e está no livro "bagagem". para ser comido com broa de fubá e cafezinho no final da tarde.

quinta-feira

30 anos do golpe militar na argentina

no último dia 24 de março, 10 mil argentinos foram às ruas em protesto pelos 30 anos do golpe militar no país. a ditadura sangrenta (mas não menos que as outras ditaduras latinoamericanas financiadas pelos estados unidos) deixou milhares de mortos, desvalidos e desaparecidos. juan gelman, uma das vítimas mais célebres, teve filhos e neta desaparecida, além da filha torturada e da mãe atormentada.
o exemplo dos argentinos na rua no último dia 24 me deixou pensativo. agora, no próximo dia primeiro de abril completam 42 anos do golpe militar no brasil, e a ditadura que daí decorreu durou ainda mais tempo do que a ditadura argentina. os números que nos chegam e a nossa apatia faz com que tenhamos a impressão de que a ditadura argentina foi muito pior, mas ainda hoje colhemos frutos abundantes-envenenados desse período de pobreza espiritual. cito, apenas a título de exemplo, a ditadura da burrice e a insistência na falta de educação (em todos os campos possíveis).

germaine tchourai

vergonha e apatia na reunião do bid

começou ontem a reunião do bid - banco interamericano de desenvolvimento. para vergonha de belorizontem, não houve nenhuma explosão, nenhum carro bomba explodiu na porta do othon palace, nenhum protesto significativo, nenhuma bomba de gás lacrimogênio. uma vergonha!

Roda - Arte e Cultura do Atlântico Negro

para quem não foi no lançamento no dia 21 de março, apenas o toque: esteve belíssima a festa, com grandes apresentações. destaque para a performance dadaísta de renato negrão e o mini-espetáculo-fetichista de benjamin abras. grande brinde: ricardo aleixo e rui moreira lendo alguns dos poemas de léopold sédar senghor traduzidos por mim e publicados na revista. saravá!
agora, aos vivos: a revista está circulando. para conseguir, é necessário contactar a fundação municipal de cultura. Roda - Arte e Cultura do Atlântico Negro é uma das revistas mais interessantes que tive em mãos nos últimos tempos. a considero um importante marco na cultura belorizontina. uma revista futurista. parabéns para os editores. tomara que não chegue ao fim depois do fan. e re-saravá!

saravá, malandro

na próxima terça, dia 21 de março, acontece o saravá de celebração do dia mundial da poesia e do dia internacional de combate à discriminação racial, como mais um episódio do 3º FAN - Festival de Arte Negra. conforme nos explica o jaguadarte, saravá é o nome que haroldo de campos dava aos saraus que ele freqüentava. no palco: grupoPOESIAhoje, benjamin abras, ricardo aleixo, maurício tizumba, renato negrão & mônica aquino, rui moreira.

após o saravá, haverá o lançamento da revista Roda - Arte e Cultura do Atlântico Negro. o salamalandro colabora com uma homenagem ao centenário do poeta senegalês Léopold Sédar Senghor. na revista, ainda: entrevista exclusiva com Moniz Sodré, dossiê do artista plástico Antônio Sérgio Moreira, reportagem sobre a presença das mulheres no funk e no hip-hop.

dia: 21 de março (terça-feira) às 20h

local: centro cultural ufmg - av. santos dumont, 174 - centro

e saravá!

terça-feira

revista etcetera #19 já está no ar




está no ar a revista etcetera#19. belíssima como sempre, traz artigos, poemas, contos e entrevistas sempre de ótima qualidade. para acessá-la, o endereço é www.revistaetcetera.com.br. em outros números, o salamalandro colaborou com poemas. desta vez, tem o artigo "william blake hoje". mas a revista traz muito mais: artigo sobre o "new journalism", entevista com o cineasta sérgio bianchi e mais e mais.

domingo

podem ficar com a realidade
esse baixo astral
em que tudo entra pelo cano

eu quero viver de verdade
eu fico com o cinema americano

paulo leminski

notas sobre a realidade

podem dizer o que quiserem, aconteça o que acontecer, a realidade vai continuar sendo o maior enigma da humanidade. por isso, nunca entendo bem o que querem dizer quando falam “cai na real!” ou o famigerado “sejamos realistas!”

daí fui procurar uma meia dúzia de escritores pra tentar entender melhor. encontrei o cioran, que diz: “somente um monstro pode se permitir o luxo de ver as coisas tais como são. mas uma coletividade só subsiste na medida em que cria para si ficções".

o julio cortázar falou numa entrevista que é completamente apaixonado pela realidade, e isso é bastante significativo, em se tratando da fala de um cronópio. allen ginsberg achava que os seus escritos eram “sanduíches de realidades” e que ninguém estranhe o uso de alucinógenos para se enxergar melhor o tal do mundo, pois um sujeito que se achava mais sério já tinha tentado isso antes, o walter benjamin.

camille paglia, a contro(di)vertida filósofa norteamericana faz dessas palavras de george eliot as suas: “se tivéssemos uma aguda visão e sensação de toda vida humana comum, seria como ouvir a relva crescer e o coração do esquilo bater, e morreríamos desse rugido que está do outro lado do silêncio. na verdade, mesmo os mais rápidos de nós andam por aí bem acolchoados de bastante estupidez".

será por isso que shakespeare acha que “há mais coisas entre o céu e a terra do que vossa vã filosofia possa imaginar”? e o t.s.eliot, aquele inglês americano, em seu primeiro dos quatro quartetos acrescenta:

“vai vai vai disse o pássaro

o gênero humano não pode suportar

tanta realidade”

será que ele está falando da mesma coisa que a sua xará de sobrenome?

eu ouvi dizer que o freud, o nietzsche e o marx fizeram uma teorias bastante engenhosas sobre o assunto. se ninguém tivesse falado em realismo, ninguém falaria em surrealismo nem em realismo fantástico e nem em realismo mágico.

tudo bem, mas aqui no brasil, realidade quer dizer (pode perguntar para o senso comum) “aquilo que se lê nos jornais. e alguns se crêem informados sobre a “realidade” quando se dizem pessimistas ou mesmo quando falam de política.

mas o jogo da imprensa é tão ridículo como qualquer novela da globo: sem querer, ou às vezes querendo, a imprensa canoniza idéias mal-formuladas que se tornam grandes preconceitos para o populacho. populacho que, aliás, não está quase nunca preparado para assimilar conceitos, mas quase sempre está em ponto de bala para proferi-los como quem sabe da “realidade” (afinal, eu leio a veja toda semana)

dizem que a poesia é delírio. mas em meados do século xx, em lugares mais precários do nordeste onde não chegava a imprensa escrita (ou o povo não sabia ler) e mesmo o rádio só chegava cheio de chiado, ninguém acreditava em nada enquanto não vinha o cordelista com a sua rabeca e versejava as notícias tintim por tintim.

o conceito de realidade está muito ligado a seus inversos: ficção (que é a vida) e auto-engano. e eis que aparece eduardo giannetti dizendo “só engana a si mesmo quem não quer fazer isso.” e é por esse meio que acabamos por nos esquecermos de que a origem da incapacidade brasileira para falar de política não está na decepção, como supõe a maioria, mas por causa do medo (essa droga pesada): “se cumpade fala mau do patrão, o patrão vem e ouve e mata, sô!”

e assim a teoria da realidade acaba por engolir o próprio rabo, nos colocando de novo e sempre diante das velhas questões: o que é? quem é? como é? de onde emana? para que serve? somos nefelibatas então? é esse o enigma? a realidade é o jardim dos sendeiros que se bifurcam?

terça-feira

o jaguadarte nas terças poéticas



a notícia vai meio em cima da hora. mas ainda dá tempo: o ricardo aleixo se apresenta hoje lá no palácio das artes, às 18h30 no projeto terças-poéticas. falará poemas do seu livro mais recente: o "máquina zero", além de poemas de sebastião uchoa leite, falecido em 2003, o homenageado da vez. nos vemos lá. ah, uma dica: o livro estará à venda por apenas R$10,.

quinta-feira

men at work

é, pessoal. resolvi mudar o visual. peço desculpas pelos transtornos de cor. nossos funcionários estão desenvolvendo pesquisas na complicadíssima ciência do html para melhor atendê-la-lo. enquanto isso, vai dando aí os seus palpites...

angeli: a biografia não autorizada de fhc

a biografia não-autorizada de fhc feita pelo angeli é um grande marco da literatura contemporânea. está disponível neste endereço : www2.uol.com.br/angeli/fhc
pra que serve? para a gente poder se lembrar o que foi o governo anterior, já que temos tão pouca memória.


vai haver a luta contra o m.a.l (movimento anti-lula)?

podem falar o que quiserem, entre todas as opções que estão aparecendo no mercado, cada vez mais eu reafirmo: voto no lula este ano se ele sair mesmo como candidato.
da imprensa, os jornais apontam seus mísseis. usam cada palavra dele contra ele mesmo. as manchetes não perdoam. e eles usam de todos os recursos visuais e outros mais para pintá-lo como um verdadeiro demagogo-populista.
o curioso é que o arroz hoje custa R$8,00 e no governo fhc custava R$13,00. o dólar caiu sem ser indexado. o povão está feliz com ele. e eu acho q os mísseis não alcançarão a meta.

quarta-feira

lubricidade

quizéra ser a serpe venenosa
que dá-te medo e dá-te pesadelos
para envolver-me, ó Flor maravilhosa,
nos flavos turbilhões dos teus cabelos.

quizéra ser a serpe veludosa
para, enroscada em múltiplos novelos,
saltar-te aos seios de fluidez cheirosa
e babujá-los e depois mordê-los...

talvez que o sangue impuro e flamejante
do teu languido corpo de bacante,
da langue ondulação de águas do rheno

estranhamente se purificasse...
pois que um veneno de aspide vorace
deve ser morto com igual veneno...


esse poema-angorô, sonata serpeante em 's' e 'z' é do cruz e sousa,
que comemora seus 145 aninhos esse ano.

segunda-feira

direito autoral: seja criativo

uma das questões que mais têm me interessado recentemente é a dos direitos autorais. como e o que fazer do copyright, do copyleft. que tipo de relação os autores têm com a sua obra e como é possível buscar uma saída alternativa à mera proibição de reprodução que aprendemos a ver nas capas de discos e começos de filmes de locadora.
daí, na semana passada, o marcelo terça-nada, meu amigo do vírgula imagem colocou no seu blogue uma dica ótima: o site do creative commons, que tem um filme bem legal explicando de uma maneira ótima o que se pode fazer quanto a isso. o site, aliás, é bem rico em informações. para quem quiser saber mais os detalhes: é só clicar na logomarca da creative commons. não me demorarei muito explicando, pois lá já diz bastante.

quinta-feira

dansa é com “s” ou com “ç”?








os dicionários grafam sempre com ‘ç’. mas gosto de escrevê-la com ‘s’, dansar. segundo o houaiss, esta palavra vem do francês (“danser”) que já a escrevia assim, no ano de 1170. na língua portuguesa, também era assim até a primeira reforma ortográfica do século xx, em 1944.

porém, guimarães rosa, que publicou seus escritos somente a partir de 1954, sempre grafou o vocábulo assim: dansar. “uns mosquitnhos dansadinhos, tanto de se desesperar”.

a explicação que mais gosto está no livro de antônio risério, o oriki orixá: “numa conversa, a bailarina suki [villas boas] me disse que achava uma contradição escrever “dança” com “ç” e não com “s”, já que o “ç” era uma letra visualmente capenga, desengonçada, enquanto o “s”, em seu desenho sinuoso é uma letra danSarina.”

risério, que, como eu, é filho da deusa da dansa e do vento, achou que suki estava com a razão. e eu também acho.

quarta-feira

a divertida história do padre que se pintou

o padre pinto pintou a cara na bahia. o vaticano não gostou. mandaram ele descansar. acho que só os padres jesuítas se deram o direito de dansar com os índios no brasil. será que só no brasil é que já se viu um padre dansar?

o padre pinto pintou a cara, pintou o corpo, cantou com o povo, fez dansa de roda no dia de reis, desmunhecou como no carnaval. foi jurado no concurso de beleza negra, passeata beneficente pela rua. um verdadeiro herói. merecia ser celebrado num livreto de cordel, cantado pelas bandas de axé e de hip hop, virar samba de enredo. um ícone do terrorismo poético. uma verdadeira lenda viva. deveria ser canonizado pelo povo.

que a igreja católica mande ele passear, não assusta a ninguém. afinal, o sonho da maioria dos padres era fazer o mesmo, não? só não fazem por medo do papa. e o medo, todo mundo sabe, é uma das drogas mais pesadas.

e ele ainda disse, com aquele arzinho de pessoa ingênua e do bem: “é melhor se pintar por fora do que se manchar de hipocrisia por dentro”.

segunda-feira

tem kafka no kafé k

tá rolando lá no francisco nunes. além da excelente peça "a acusação", tem o kafé k. e nele, uma exposição-instalação onde você encontra trabalhos, entre outros, do michel (o dos olhos de mel) mingote. para ver a programação, procure aí nos linkes o site do "grupo oficcina multimédia". se vira, pô, você não é quadrado (a). mas vá rápido, porque é só até o dia 22 de fevereiro.

quinta-feira

áfrica, essa desconhecida

é o poeta antônio risério quem lembra a imensa dificuldade que há em se falar da áfrica. nossa ignorância sobre o assunto começa em nós mesmos. por mais óbvio que seja, sempre que falamos de coisas d’áfrica, pensamos a partir dos preconceitos e dos desvios que a história deixou. seria ocioso ficar lembrando as inúmeras vezes que falamos desse continente demonstrando profunda falta de conhecimento sobre o assunto.

recentemente incluído nos programas do ensino fundamental do mec, a história da áfrica é agora um assunto urgente e a nossa ignorância precisa acabar. nesse sentido, o livro que a editora crisálida publicou recentemente é uma lamparina no meio da escuridão. nele, os autores (uma angolana radicada no brasil e um brasileiro) demonstram extrema paixão pelo tema e se a obra peca em algum sentido, é porque o caráter introdutório não permitiu que os autores se prolongassem nos detalhes. adianto que cumpre bem o papel de história crítica.

“usualmente, associamos idéias e noções estereotipadas que constroem e são construídas por uma imagem de uma áfrica tribal, tradicional, arcaica, com negros em trajes pré-industriais e armas primitivas, buscando seu alimento nas savanas. nestas representações, a áfrica aparece como distante, como separada de nós por alguns séculos. sugerem que nós, (os tupiniquins) participamos da civilização ocidental e nisso nos distinguimos dos “negros-africanos-tribais”. procuramos buscar elementos que mostrassem os limites dessa simplificação e que colaborassem para pensarmos o continente em outros moldes.”

é o que os autores dizem na introdução à introdução. de minha parte, gostaria que muitas coisas ainda neste mundo começassem a ser pensadas em outros moldes. mas se começarmos apenas por esse, já será um grande começo.

terça-feira

deu ontem no O (perda de) Tempo



o jornal o (perda de) tempo publicou ontem no seu caderno magazine uma excelente matéria assinada por bruno loureiro. nela, aparecem comentários de makely ka, zéfere, alguns editores e este salamalandro que vos fala. o assunto é o mercado editorial e sua difícil-dificultosa relação com os poetas nascentes (e/ou vice-versa).

é preciso dizer que loureiro merece louros pelo trabalho. enquanto conversávamos, pude ver que ele perscrutava o assunto com curiosidade, levantando as questões primordiais, como um detetive, e pelo resultado, deu pra ver que ele correu atrás. é raro um jornalista que faz isso. normalmente, eles estão apenas preocupados em reafirmar o que já sabem ou que estão engastados num não-saber-agindo- como-quem-sabe-porque-a-verdade-jornalística-é-eterna-e-única-acima- de-todas-as-outras.

mesmo assim, na página impressa, aparecem equívocos e distorções. na legenda sob a minha foto, o editor declara que estou “desiludido com as leis de incentivo e os concursos literários”. ora bolas, eu jamais diria uma bobagem dessas. as leis de incentivo são uma excelente conquista para quem produz e vive de bens culturais. são passíveis de críticas, é claro, como tudo nesta vida (e especialmente no nosso país da batucada). mas eu não diria propriamente que estou “desiludido”. na verdade, podem achar paradoxal, mas eu nem mesmo lamento o estreito espaço que existe para os “neófitos”.

o que eu queria dizer, e não está expresso no artigo, é que o poeta iniciante que se ilude com a idéia de recorrer à lei pode ficar decepcionado com o resultado. e que, se o escritor pretende realmente publicar suas palavras, que recorra a algo mais certo, e isso em linguagem poética quer dizer que ele deve “fazer justiça com as próprias mãos”. é assim há muito tempo, não há nada de mais. pelo contrário, é sinal de a(r)titude. e o papel do artista na nossa sociedade não é o de sair publicando livros por aí: é fazer com que a bomba exploda em algum lugar. e isso não acontece se não houver atitude.

eu poderia ficar aqui citando uma imensa lista de nomes: borges, juan gelman, manuel bandeira, drummond, paul éluard e por aí vai. infelizmente (ou felizmente) todos eles tiveram que bancar o seu primeiro livro. c’est la vie. é como me disse o meu amigo ian guest: “não adianta ficar lutando contra os buracos na calçada”.

concordo com o juan: o simples fato de existir pessoas fazendo poesia já é um ato subversivo, mas isso não quer dizer que essa pessoa vai arranjar editores da noite pro dia porque revelação é uma coisa e subversão, outra muito diferente. e, não dá pra esperar que aconteça como na música, na prosa e nas artes dadas ao consumismo: o escritor precisa mesmo é ralar ralar ralar. não apenas para ser um bom escritor: alguns dos nossos melhores poetas, de pedro kilkerry a sebastião nunes, quase não são lidos.

a lista dos mais vendidos é uma das manifestações do que eu chamo de “desvios psíquicos da imprensa de rapina”: só tem serventia na sociedade consumista. e o público leitor de poesia (multidão de sanchos panças), no momento em que estão procurando versos para ler, não se encaixa nessa dita sociedade. “o sucesso não vem por acaso”, não é seu lair?

mas, enfim, podemos sobreviver a esse jornal. afinal, imprensa é assim mesmo. não se preocupa muito com a exatidão das palavras, muito menos com o que vão pensar (d)os seus entrevistados. e pra terminar bonito essa bonita postagem, vou citar o jorge luís borges (quem diria!) que diz: “passemos à poesia; passemos à vida. e a vida, tenho certeza, é feita de poesia.” (atenção: feita de poesia, não de jornalismo) e para completar os dizeres do velho jorge: “livros são apenas ocasiões para a poesia”. precisa dizer mais?

domingo

campanha de popularização do teatro

em belo horizonte, todo mundo sabe: para quem não sai para a praia no verão, tem a campanha de popularização do teatro. há pouca movimentação cultural para além disso na cidade. os artistas esquecem a existência, as galerias fecham (a maioria), os músicos vão para o litoral baiano, só alguns poetas ficam por aqui fazendo o mesmo de sempre: reclamar e tomar café. uma cervejinha de vez em quando também.

mas a campanha de popularização do teatro, também conhecida como campanha das kombis, é um projeto interessante. não é um festival. não é uma celebração. não é uma iniciativa governamental. tenho a impressão de que é quase um protesto público dos atores que dizem “hei, nós existimos”. e, vendendo seus ingressos a um preço único e módico (este ano está custando R$7,00), o teatro mineiro contemporâneo, pouco a pouco, acabou por tomar um fôlego, produzindo peças que vão além das meras comédias de pornografia para a família e piadas baratas sobre o homossexualismo com péssimos atores.

este ano a campanha está na 32ª versão. pouca coisa dura tanto tempo nesse país da batucada. a cena belorizontina fica fria o ano inteiro. então, no calor do verão, os atores se empenham e apresentam dezenas de peças que atendem a todos os gostos e de todas as qualidades. a idéia é tão interessante que não entendi ainda por que os artistas das outras áreas não criaram algo parecido para eles. imagino que um projeto assim voltado para a música, a poesia, mesmo para as artes plásticas, poderia ser o princípio de um acontecimento inédito no país: a possibilidade real de interação entre artistas e público.

já ouvi dizerem que na verdade esta é uma “campanha de vulgarização do teatro”. mas mesmo isso acabou por tornar-se uma desculpa esfarrapada. é certo que a maioria das peças primam pelo mau gosto, a falta de preparação dos atores, enredos e temas apelativos e comédias de riso tragicamente fácil. mas pude ver algumas peças nesta temporada que me reafirmaram o que eu já sabia: existe teatro bom em bh (eu não era capaz de dizer isto há dez anos atrás). ainda não é a maioria, infelizmente. mas com três grandes escolas na cidade e alguns grupos premiados, como é o caso do galpão, giramundo, luna lunera e cia espanca, podemos finalmente esperar fortes emoções. mas independente da qualidade, precisamos jogar fora os preconceitos e constatar ao menos esta verdade: a iniciativa da classe teatral é um grande exemplo a se seguir.

luna lunera e a peça "não desperdice sua única vida ou..."

patrícia me levou para ver essa peça na semana passada e desde então não me sai da cabeça. até pensei em escrever algumas palavras inteligentes sobre o assunto, mas o editor-chefe da revista veja achou que pegaria mal. “não é bom oferecer coisas inteligentes para as pessoas”, ele me disse. e o jerônimo ainda acrescentou: “além do mais, não se deve falar bem de peças de teatro. falar bem não vende nem balinha na esquina. bom é quando você fala mal da peça, que aí causa polêmica e vende muito mais.”

mas como eu não queria vender nada, só queria puxar assunto com os leitores, achei que pelo menos podia colocar aqui nesse blogue um convite para vocês irem assistir. está na campanha de popularização do teatro até o dia 19 de fevereiro. assistam e comentem comigo.

segunda-feira

fórum social mundial


começa hoje o 6º fórum social mundial. o evento acontece a cada ano e tem um repercussão cada vez mais contundente no cenário internacional. é a mais interessante resposta ao fórum mundial econômico. de caráter puramente popular, teve suas primeiras versões aqui no brasil: em porto alegre. mas diferente dos outro anos, o encontro será policêntrico: acontece ao mesmo tempo no Paquistão, no Mali e na Venezuela.

meu amigo e ídolo pop marcelo terça-nada, como nos três últimos fóruns, já está em Caracas. e quem quiser saber notícias, aconselho que não siga o noticiário da rede bobo ou da revista (in)veja. procure a “outra imprensa”. se estiver em bh, poderá sintonizar na rádio ufmg, que também dará alguma cobertura. é só ficar ligado.

domingo

em 2006 ou é sempre bom dar uma reclamadinha

maiakovski, gertrude stein, pedro kilkerry, léopold sedar senghor, wisława szimborzka, ocatavio paz, anne sexton, aimé cesaire, francisco urondo, marcelo companheiro, césar vallejo, paul verlaine, adam mickiewicz, pushkin, paul éluard, robert desnos, josé lezama lima, rubén darío, sor juan inés de la cruz, antonio machado, stephane mallarmé, ovidio, chuang tse, sá de miranda, macedonio fernandez, heredia, verhaerhen, john donne, s. t. coleridge, issa, edmund spenser, johann wolfgang goethe, gérard de nerval, andré breton, raul gonzalez tuñon, jorge guillén, miguel hernandez, tristan tzara, wlademir dias-pino, oliverio girondo, sebastião nunes, w.b.yeats, tadeusz rożewicz, pier paolo pasolini, swinburne, sousândrade, luiz gama, langston hughes, allen ginsberg, gregory corso, lawrence ferlingetti, e. e. cummings, george trakl, aleksandr blok, hölderlin, iessênin, marianne moore, jules laforgue, tristan corbière, friedrich nietzsche, miodrag pávlovitch, jacques prévert, jiri wólker, samuel beckett, li tai po, tu fu, roberto piva, czesław miłosz, claudio willer, juan gelman.

são alguns dos poetas que eu gostaria de ler em 2006. mas "nesse brasil que canta e é feliz feliz feliz" (como diria augusto de campos), não se encontra. uma pena.

quarta-feira

nei lopes e as áfricas em nós

se formos acompanhar os fenômenos que acontecem na cultura brasileira, pouco a pouco veremos o quanto somos pobres de conhecimento de nós mesmos. opostos costumam ser afirmação do mesmo. sobre a presença negra no brasil, eu chamaria de colonização passiva. colonização porque o alcance da implementação dos hábitos e costumes dos africanos foi muito maior do que supomos. passiva... bem, todo mundo sabe. foi enquanto eu pensava nisso que eu tive acesso a um mundo inteiramente novo que pra mim começa num excelente trabalho de nei lopes chamado “novo dicionário banto”. fiquei fascinado ao saber nele que boa parte do vocabulário brasileiro se formou a partir das línguas da áfrica austral, hoje oficialmente lusófonas.
a palavra “cara”, usada sem limites em todo o território nacional, no masculino (o cara), por exemplo, teria vindo de uma língua banto: “okala”, que significa homem. a etimologia dada pelos dicionários é um pouco diferente: houaiss (que inclusive aceitou muitas entradas no seu dicionário monumental) defende que teria vindo do latim, através do grego “kara”, significando rosto (a fonte sendo a mesma da palavra feminina).

agora, pesando os dois lados da balança, não seria mais óbvia a suposição de nei lopes? afinal, já temos tantas palavras bantas no nosso vocabulário corrente e oficial! samba, bunda, dendê, inhame, mulungu, zumbi, cochilo... e por aí vai.

só nos resta concluir que os nossos aplicados filólogos mergulham desesperados nos tratados de latim e grego, procuram saber sobre nossas origens indo-européias, acham fontes em tudo quanto é lugar, mas se esquecem de algo muito simples: o brasil é quase a áfrica.

nei lopes é sambista, parceiro de martinho da vila, autor de diversas canções populares. lançou recentemente um cd, coletânea de alguns dos seus maiores sucessos. de letra e música (para ouvi-lo, clique aqui). fez o grosso (porém caro, uma pena!), “enciclopédia brasileira da diáspora africana”. e é o autor de “bantos, malês e a identidade negra”, lá nos anos setenta. sobre este, ainda voltaremos a falar, que vale a pena. mas como eu já falei demais, por hoje, vou ficar por aqui.

ah, ele tem também um blogue: meu lote, visite, vale a pena..

terça-feira

jacques prévert

três poemas que traduzi de j.p.

dedicados ao meu amigo eclair antônio almeida filho



um homem e uma mulher
nunca se viram
vivem muito longe um do outro
e em cidades diferentes
um dia
eles lêem na mesma página de um mesmo livro
ao mesmo tempo
no segundo segundo
do primeiro minuto
de sua hora derradeira
exatamente


.......

um único pássaro na gaiola
a liberdade está de luto
oh, minha juventude
deixa para minha alegria de viver
a força para te matar


........

o tempo
traz a vida dura
àqueles que querem matá-lo