quarta-feira

] ao meu redor [ andityas soares de moura

o estudo me fez espirituoso


E todos os dias parecem reclamar
seu quinhão de sombra e de desassossego,
enquanto nós, com o silêncio de gestos
muitas vezes repetidos, construímos o
torpor, a catatonia de um mundo que se entrega.


do livro FOMEFORTE

tem um comentário do poeta irlandês w. b. yeats sobre pound, onde ele diz: “esse é um poeta de cuja teoria eu discordo completamente, mas que a ele estou ligado por questões que ultrapassam a estética” (estou citando de cabeça). agora já deve ter passado uns oitenta anos desde que yeats escreveu isso, e olhando de outro continente, em outro contexto histórico (livre dos fascismos que iludiram os dois grandes camaradas de que eu falei), posso agora brincar de gente grande e falar o mesmo sobre este meu parceiro. e falarei em forma de relato.

andityas soares de moura é um poeta português, filho de pais brasileiros e nascido em barbacena, interior de minas gerais, estado onde sempre viveu. como estrangeiro que é, onde quer que esteja, vive assumindo em sua poesia uma persona nova, que inclui uma língua e uma forma específicas. mas que ninguém se engane: todas elas transitam num mesmo espaço, onde a realidade é apenas um elemento em meio aos diferentes artifícios aos que ele se apega para os seus versos.

certa vez, num sarau que fizemos numa livraria onde trabalhei há muitos anos atrás, o andityas, tendo lido alguns dos meus poemas, me veio com a seguinte resposta: “estás compromissado com a modernidade”. pouco depois, pude ler o seu primeiro “poemário” (como ele o chama), Ofuscações. achei, e ainda acho, extremamente romântico, deslumbrado com rimbaudismos, traklismos, vangogoghismos, delírio verbal sem artifício, um tanto quanto retórico. pensei: “esse cara está compromissado com o passado.”

lentus in umbra

quando o reencontrei, anos depois, ele tinha nas mãos o seu mais novo livro, cujo título confirmava a minha suposição: lentus in umbra (imagina! se fosse dos meus, não pensaria duas vezes em meter o título em língua brasileira. brasileiríssima, aliás: tranqüilo na sombra. mas o fato é que gosto do livro, e talvez não gostasse se tivesse o título que sugiro). o título, tirado da écloga I das bucólicas de virgílio. nesse livro, aparecia algo de novo: o elemento ezra pound, make it new. lentus in umbra foi logo traduzido na espanha e publicado pela prestigiosa editora trea. havia-se acrescentado ao caldo, uma imensa paixão pelos cantares d’amigo medievais em todos os seus desdobramentos: galaico-português, provençal, francês, catalão, castelhano e o que daí surgiu em termos de poesia nas línguas neo-latinas.
PAX ROMANA Tu, deitada no templo, decifrando as escuras pilastras da casa, ouve minhas palavras metálicas. Ainda hoje saborearei teu corpo, quer m’ofereças, quer não. Jasmins tenho em minha carroça para impressionar teus gostos arrojados; serei um afável salteador, roubando-te as mais pecaminosas excitações cerebrais. Ainda hoje tu te deitarás comigo no prado. Afastemo-nos da cidade. Então apresentar-te-ei vários elixires, temperos raríssimos. Os milênios serão nossos confessores. (de lentus in umbra)

OS enCANTOS

daí, em 2002 conspiramos e acenamos com uma possibilidade (hoje concretizada): publicar pelo selo in vento o seu livreto outsider OS enCANTOS. como leitor, considero este livro uma grande homenagem ao mestre pound (andityas é hoje um dos poucos poetas, talvez o único, que puderam se arriscar na empreitada de ser poundiano em terras brasileiras, o que só é possível com muita erudição).

OS enCANTOS é o livro dele pelo qual tenho maior simpatia. é que nele a ousadia é deslavada. faz jus ao verso de um poema de lentus in umbra: “o estudo me fez espirituoso”. fica numa fronteira idiomática própria de momentos sociais de tensão. guerra. festa. fresta. fantasmagoria. carnaval. é a veia janequiniana do andityas.

daí pra frente, estreitamos a amizade. tive a honra de revisar ponto por ponto a sua inventiva tradução da poeta galega rosalía de castro, o recém publicado a rosa dos claustros (crisálida, 2004). pouco depois, fizemos contínuos trabalhos em torno à poesia de um argentino que ambos admiramos muito (todo mundo já o sabe), juan gelman, grande parceria! o a.s.m. publicou ainda o livreto à boa teta, com poemas licenciosos do século XVI francês.

continua...

FOMEFORTE

“um homem fica muito aterrorizado por uma fome forte; e esse terror é a raiz de toda crueldade.” (d.h.lawrence)
tudo isso pra dizer que acaba de chegar o mais novo livro da imensa prole de andityas: FOMEFORTE. também faz parte do selo in vento e esta edição tem a parceria da editora crisálida. a palavra dele amadureceu, as ilusões se acalmaram no peito, as amizades se firmaram. t.s.eliot, rûmi, laforgue, molière. o verso duro é saudado por ninguém menos que glauco mattoso e o nosso grande mestre: juan gelman, que assinam orelha e contra-capa.

a dureza dos poemas é um contrapeso diante de uma coisa incerta que cerceia todo o “poemário”, a insegurança causadora de tensão. como o andityas é um poeta partidário da razão, dá uma puta tentação de enfileirá-lo na turma dos limpinhos e higiênicos poetas da minha geração (não vou citar nomes aqui). mas a verdade é que a poesia desse português das minas (lembrem-se da fama de barbacena torno aos hospícios) respira a uma vivacidade incomodante, misturada com o pedantismo próprio das línguas românicas. pensamento conciliador, o demônio das coisas concluídas e bem arranjadas, a voz dos ofendidos na guerra. vida atual. tempo atual. em cumplicidade com o tempo insistentemente obsoletizante, desobsoletizando-o. contra uma mera moral. a favor de outro tipo de bons costumes.

não é um poeta para escolinhas de adolescentes. não é nenhum partidário da certeza, como tantos. é um cara vivo e atento. antenas viradas para um outro lado sem o grande bocejo da vida dita “real”.

quem quiser encontrar as obras de a.s.m na internet, está fácil: OS enCANTOS e lentus in umbra estão disponíveis na web. leia os livros do andityas aqui.

3 poemas do livro FOMEFORTE

AUDIÇÃO PARTICULAR 2
Violin-Sonate nr: 9 in A-Dur [Opus 47]

já te disse:
lambuza-te de
mel
e terás minha atenção

e t’encontrava
nas plácidas
horas digestivas
(após o almoço)

nada poderia
ferir mais que
a ponta dos joelhos

talvez somente o
1° movimento
da sonata Kreutzer

e tu soavas
a cada gemido

as molas: piano
o gozo: violino


A CAPA DO CRITÉRIO (ESTUDO 2)

mulheres de plástico
é do que precisamos

com seus dedos de plástico
cheiroso transparente (vítreo)
lustroso (vinil) virgem
pisariam as
ruas

haveria delírio frenesi
ruptura

Tiradentes

3.
(excursus)

cravei a memória
do meu sono
neste sino
e perguntei:
é 1 real a entrada?

não, não,
fio,
só si a
pessoa quisé
ajudá
explicit canto

telesur

entrou no ar no último domingo a telesur. a belíssima iniciativa tem sua base na venezuela e estará no ar em toda a américa latina. incluindo o brasil, é claro. o objetivo é uma emissora de tv para uma integração entre todos esses países, facilitando o contato e a irmandade. uma emissora assim já vinha sendo idealizada há muitos anos por intelectuais de grande importância como eduardo galeano (uruguai) e fernando solanas (Argentina). entre os organizadores, tem também o walter salles e o fernado morais. o canal promete. para se ter uma noção melhor da iniciativa, clique aqui. o endereço do site da emissora é www.telesurtv.net

descoberto uso do valerioduto por eduardo azeredo

deu ontem na primeira página do "o globo" mais um furo jornalístico: encontraram documentos que informam sobre o uso do valerioduto na campanha de 1998 para governador do atual senador eduardo azeredo. a notícia não circulou em minas gerais. os jornalistas mineiros têm medo de noticiar qualquer informação que possa denegrir a imagem do atual governador, o nosso queridíssimo aécio neves que tem o displante de conseguir a demissão de qualquer um que se aventurar a fazer isso.

segunda-feira

piores poemas

essas traduções ganharam "menção honrorosa" na bienal dos piores poemas, em 2004. parabéns. os autores? claro, eu, a letícia féres e o anderson almeida.

O Mar Português
Fernando Pessoa

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.


.................

Omar, Português

Mar Morto, Mar Mita, Mar Mota

Omar Salgado, quanto do teu sal
Veio salgar meu bacalhau!
Por nos cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantas noivas na mão ficaram!
Quantas moças estão a navegar
Para que fosses o meu Omar!

Foi bom pra você? Se a sardinha não for pequena
Ainda vale a pena!
Quem quer passar a mão no beijador
Tem que pegar no trovador.
Dei, Omar, para o Pedrinho e pro Francisco dei,
Mas como você jamais provei.

.......................

Alma minha gentil, que te partiste

Luiz Vaz de Camões

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.


E se vires que pode merecer-te
Alg?a cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

.....................

Ó maminha gentil, que te partiste

Para Glauco Mattoso

Cecil B. DeMilus, Sophia DuLoren, Laurinha Trifil

Ó maminha gentil, que te partiste
Tão cedo deste corpo adolescente,
Lembra da tua irmã, discretamente,
E viva eu aqui, sem ti, em riste.

Se lá no lado esquerdo já caíste
E sonhas em voltar aqui pra frente,
E com vergonha a sua dona, deprimente,
Não tem como esconder e fica triste.

E se ainda quiseres reerguer-te
Pois arranjes reforçado sutiã.
Dou-te com bondade esse macete.

É de graça. Mas já sei, caída irmã,
Que por enquanto só vou ver-te
Indo à puta-que-pariu de rolimã.

Poesia aqui e agora

Estado de Minas, Caderno Pensar (19/02/2005)

por Mário Alves Coutinho


Leo Gonçalves, em idade cronológica, é um poeta novo; mas como as vias e os caminhos da poesia são mágicos (mas não só; a poesia é magia, mas realismo também), ele tem um conhecimento e uma sabedoria do mundo que vão além dos anos vividos. Quando ele escreve, num de seus poemas de das infimidades que “um poema bonito/ seria assim assim como um poema conflito”, ele já intuiu, mas provavelmente já deve ter vivenciado, algo que William Blake, já sabia: “Sem opostos não há progresso. Atração e Repulsão, Razão e Energia, Amor e Ódio, são necessários para a existência humana” (O casamento do céu e do inferno).

Para ele, a beleza não existe somente no ideal, no etéreo, no excepcional, mas na realidade, no cotidiano, no dia-a-dia. Leo Gonçalves é daqueles poetas que procuram pensar e falar da sua experiência, por mais pequena e ínfima que seja, e daí extrair conhecimento, sabedoria, música, quer dizer, poesia. Do etéreo, ele também trata, só que com ironia: “Até gosto às vezes/ de brincar de anjo/ do que não gosto/ é da tremenda dor/ que me fica depois/ nas asas”.

Assim é a poesia de Leonardo Gonçalves: minimalista, reduzida ao essencial, preocupado em extrair beleza (e conhecimento) da vida mesma que ele leva, em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Pois, como escreveu Octavio Paz, em O arco e a lira, “o poeta escuta o que o tempo diz, ainda que ele diga: nada”. O tempo pode dizer o amor (“deve ter algo no céu/ da sua boca/ que me faz brilhar”, que lembra outro poema em prosa de Blake, “aquele cuja face não ilumina, nunca se tornará uma estrela”) ou, talvez, o desespero (um poema em que repete os refrões, “e você ria”, “você não vinha”, “você mentia”). Mas o tempo, através de Leonardo Gonçalves, está sempre dizendo que a vida é horror e delícia, claridade e escuridão, noite e dia, tudo junto, inseparável (e é isto que, finalmente, faz a sua beleza): “Quando eu morrer/ favor anotar no final da minha paixão:/ morreu de tanto viver”.

Aí está toda a magia da poesia, em sua beleza e completude: até mesmo o ato de morrer, pode ser, contradição suprema, uma afirmação, na verdade e ainda um ato de vida. Pois, como escreveu William Blake, “tudo que vive é Sagrado”. Ou, como afirmou Octavio Paz, “poesia, momentânea reconciliação: ontem, hoje, amanhã; aqui e ali; tu, eu, ele, nós”. Poesia, como bem sabe Leo Gonçalves, é conflito, mas também reconciliação.

o mal da imprensa ou o jornalismo transgênico

aqui no brasil, é a imprensa quem define os destinos que iremos tomar. o discurso é o seguinte: o povo tem direito de saber tudo o que acontece. é dever da imprensa divulgar o que se passa nos bastidores de tudo. temos o dever de informar a verdade para as pessoas. blablabla. e assim, eles nos informam da verdade deles. porque o problema é que nem todo mundo sabe que a verdade é adaptável para as diferentes necessidades. e então, cada jornal e cada emissora de tv adapta a verdade a favor de alguém. os jornais têm os mesmos problemas que os transgênicos: ninguém sabe a quem eles estão servindo. por isso, deveria vir na primeira página de cada jornal, algo parecido com os rótulos avisando sobre os produtos transgênicos. imagina se viesse escrito nos jornais, como O TEMPO, por exemplo, o seguinte aviso: "este jornal é imparcial em favor dos interesses do psdb." ou ESTADO DE MINAS, "o grande jornal dos mineiros sempre a favor do governador." acho que assim estaríamos melhores. na história da histeria atual em torno à corrupção, deveríamos agora lutar por algo como uma CPI da imprensa brasileira ou a criação de mecanismos que obriguem os jornalistas a se tornarem mais sérios. afinal, algo precisa ser feito. e com urgência.

quinta-feira

literatura de bordel

para cicciolina e marcelo companheiro
o jornalista fotografa
a boceta filet-mignon da prostituta
aqui tudo pode
(ensaio com 75 poses caras e bocas e perversão)

de longe vem o rugido da horda
alegria um velho safado
consolo no rabo
porta aberta em senhorita lusbel

o guarda no batente se levanta
aponta o cassetete pra fazer seu certo
dá revista completa no sujeito
e termina pagando boquete
o ensaio sai no jornal nacional

nessa orgia deslavada
todo coitado quer meter o pau
repórter mariquita recatada
quis mamar na teta seca dessa vaca
cobriu a batucada na semana passada
voltou prenhe de um casal de maritacas

por aqui, tudo é amor
aqui todos tomam nos cus
seu tião faz sacanagem pura
pra avisar que o que é bom se faz aqui
o buraco não é só embaixo
& a festa é na coluna social
todos os direitos reservados:
conversa de microfone, classe média no mediano
grana jogada de grila, verdinhas, verdinhas e verdões

mas quem mais ganha nessa brincadeira
é a puta e o delegado, o programa do jô e o jornal nacional:
glória à audiência nas alturas,
e putaria aqui na terra, amém.

rapidinhas

mais sobre a imprensa de rapina

soube ontem que o financial times, um jornal altamente capitalista, levantou a discussão do problema da mídia brasileira. segundo eles, passados os vinte anos do fim da ditadura militar, a imprensa brasileira ainda continua tentando levantar estratégias para engambelar o leitor e não ter que responder por supostas acusações que faz inadvertidamente. de fato, a luta pelo "furo" de reportagem é um dos maiores males da cultura brasileira e chega a ultrapassar os limites da mídia. a suposta "novidade" é o nosso fetiche maior, não nos preocupando nunca em ter bases firmes para agüentar problemas realmente graves.
zona de invenção poética &
saravá! o puxador da bateria, ricardo aleixo, voltou a entoar o bordão: datas alteradas, a notícia é boa. o zip, que aconteceria no ano que vem, agora acontece em setembro deste ano, em belo horizonte, com os poetas da linha de fronteira. a bienal de poesia, que aconteceria neste setembro, fica remarcada para o ano que vem. mais notícias, no jaguadarte. revista mondana
seja benvinda! para quem se lembra e já se deliciava com o fanzine idéias bizarras, começa a circular de maneira igualmente deliciosa (e gratuita!) a revista mondana, em formato grande e repleta de novidades e curiosidades interessantes. como avisa a editora christina castilho, variedade no melhor sentido da palavra. ah, se toda mídia fosse assim...

terça-feira

imprensa de rapina é o mais inalterável vestígio da ditadura militar ou eu também vou reclamar

há muito tempo que olho amargo para as matérias sobre a política nacional na imprensa e fico extremamente chateado. exatamente por isso, deixei (como boa parte dos brasileiros) de ler ou ver jornais. com a crise, ficamos mais atentos. então, por isso mesmo. pare, pense e me diga: quem é que mais lucra com a patética situação do país da batucada?
não quebre demais a cabeça. é claro que é a imprensa. agora ela está sapateando sobre a cova do PT. soube na semana passada que marcos valério soltaria a língua e que viria tiro para todo mundo, incluindo o aécio neves, nosso excelentíssimo governador. mas no mesmo dia, vi uma entrevista realizada contra (isso mesmo, contra) o marcos valério no jornal nacional. fiquei impressionado em ver o quanto o jornalista se preocupa em falar somente em uma sigla: pt. querem destruir o partido dos trabalhadores. enquanto isso (eu ia conversando com meu amigo antônio sobre isso hoje), o país fica perdendo tempo com bobagens. deveríamos agilizar o processo de apuração dos crimes todos de uma vez e fazer de tudo para sair da crise, e não ficar fazendo esse jogo ridículo. no cenário mundial, novas possibilidades se abrem para o brasil. os países desfavorecidos começam a abrir caminho no meio da merda mundial. o brasil pode ficar pra trás se ficar só nisso.

as réplicas do marcelino

não posso deixar de comentar aqui a teima e a toleima do matador-mor da revista veja, ora vejam!, que atacou mais uma vez metendo o pau no trabalho de dois caras da nova geração: o era-o-dito marcelino freire e o encarniçado joão filho. ele não tem mais o que fazer. confesso que ainda não li o livro dos dois camaradas. mas também confesso que o texto do jt despertou a minha curiosidade para lê-los. além do mais, o cara escolheu trechos inspirados dos livros deles para falar mal. deve estar é querendo ficar famoso às custas dos caras! só pode ser isso.

agora, novos detalhes sórdidos começam a aparecer em torno ao matador: se arriscou como escritor e ainda tem um ... digamos... blog! na superinteressante. Superinteressante! então, pessoal, vai lá e enche o saco do cara. encham a bola dele. façam algo por ele. ele está clamando por bombons. ora ora... olha o link aqui (uma dica: para quem tem email grátis, minta. o nazista não aceita mensagens de quem não paga internet, mas aceita de quem mente.)



clique aqui para ler a carta do marcelino (mais um tiro certeiro na cara do jt) publicada ontem no era-o-dito.

segunda-feira

à boa teta

teta nova, mais branca que ovo,
teta de cetim branco novo,
teta que faz a rosa corar,
teta de beleza sem par,
teta firme, não teta, enfim,
pequena esfera de marfim,
no meio da qual se fareja
uma framboesa ou uma cereja,
que ninguém vê, tampouco toca,
mas assim é descrita em doce fofoca.
teta, pois, da pontinha vermelha,
teta que sempre imóvel semelha,
no ir e vir de seu caminhar
ou para correr, ou para bailar.
teta esquerda, teta sozinha,
teta separada da sua irmãzinha,
teta que é grande homenagem
para o resto da personagem.
teta, que desperta em moço e ancião
um grão desejo lá dentro da mão:
de te provar, de te possuir.
mas é preciso refrear o sentir,
o achegar-se assim tem que ser,
senão outras vontades verás florescer.
ó teta nem grande nem pequena,
apetitosa, desenhada a bico-de-pena,
teta que noite e dia implora:
“casa-me, casa-me agora!”
felizardo, eis como se chamará
aquele que de leite de t’encherá
fazendo de teta de donzela
teta de mulher inteira e bela.

poema de clément marot (1496-1544) publicado em à boa teta [tradução de andityas soares de moura]. crisálida, 2005.

cicciolina

you said everything revolves around a certain principal
you said everything depends upon our understanding of the political

my Cicciolina everything is physical
my Cicciolina everything's political

you're the butterfly goddess floating down
streams of love's jetting sperm fountains
everyone wants to consume you cicciolina
why should I be any different?

my cicciolina everything is physical
my cicciolina you fill me with a boa constrictor love
love like a fire
love like a flame
but you eliminate
there she goes again floating down those lovely streams of
those lovely streams of

my cicciolina everything is physical
it's all political
my Cicciolina

é uma musica do machines of loving grace

sexta-feira

cicciolina, la diva futura

tenho que admitir: sou fã dessa loura.

sagitariana como eu, a oxigenada escandalizou a itália com uma meia dúzia de deliciosos atentados po(rno)é(ro)ticos. foi presa várias vezes e foi processada inúmeras vezes por atentado ao pudor.

por exemplo: nos anos 70, ela apresentava um programa de rádio onde ela dava conselhos sexuais de deixar qualquer penélope de cabelo em pé. uma noite, recebeu uma ligação de um adolescente que queria aprender a se masturbar. ela deu todas as instruções e a garota teve um orgasmo em cadeia nacional. audiência nas alturas. no dia seguinte, processo por perversão de menores.
cicciolina fundou na itália o partito dell'amore e foi eleita de-puta-da depois de mostrar a boceta pra todo mundo. ela explica que somente através do amor, digo: o amor!, as pessoas vão se tornar mais dignas e a violência diminuirá. "não é verdade que o sexo desperta a violência nas pessoas", ela insiste.

ela também dirigiu alguns filmes. il telephone rosso e la diva futura são dois verdadeiros clássicos. este último, de vanguarda, com maravilhosos elementos porno-dadaístas. quem quiser saber mais, leia a autobiografia dela, o livro confessions.

imprensa de rapina

só pra fechar, a revista óia se gaba ter sido a heroína que primeiro lançou a bomba sobre o Bob Jefferson. anda dando uma de heroína salvadora da lavoura. ninguém contesta os fatos em torno à corrupção nacional. mas ignoramos a maior parte das entranhas desse assunto. o que não acontece com o movimento literatura urgente. quem estiver afim de saber tudo sobre o assunto, as propostas e tudo mais, tá fácil fácil. então fico pensando cá com meus botões. se com a gente eles fazem isso, não quero nem ver o que fazem para foder a turma lá que já tá mesmo toda suja até o queixo! o brasil está viciado em heroínas!?

ainda sobre ontem...

um último comentário: o texto da veja realmente me deixou chateado. não apenas por causa da maldade inerente aos semanários nacionais, mas porque eu sei que no brasil essas idéias são bastante respeitadas. afinal, esse é um país onde os escritores são funcionários públicos que enquanto ficam morcegando, vão escrever uns livros clássicos aí tipo "a rosa do povo" e "memórias póstumas de brás cubas". eu só fico achando é que a revista dessa vez brincou com fogo, eles não deviam ter feito uma tolice dessas. escritor não é corrupto que fica abusando do dinheiro público não. é gente muito mais perigosa. desestabiliza a ordem. fica brincando... mesmo assim, eu deixo aqui uma nota triste e mudo de assunto.

quinta-feira

povim

só hoje é que fui ver a revista veja que publicou a infeliz matéria sobre o movimento literatura urgente assinada pelo jornalista jerônimo teixeira. o texto só veio comprovar o meu descrédito com a revista. da forma como está dito, faz parecer que o movimento visa um benefício do tipo que anda circulando por "malas" e "cuecas" para uma meia dúzia de escritores que, em sua maioria, não têm nem tanto espaço quanto o desperdiçado pelo ilustríssimo nazista que assinou o libelo. chegando na rede, fiz questão de dar uma olhada geral e ver o que os "acusados" por ele dizem, e gostei. dêem uma olhada aqui e aqui. comentário: nesse país de imprensa marrom não se pode nem ser escritor sem ser visto como um tolo ridículo. para quem não sabe, fomentos nacionais em favor da produção literária são prática salutar e muito bem vista. os mais pacientes, procurem pelas experiências bem sucedidas de países como a espanha, a frança e a irlanda, e me diga o que devemos fazer com jerônimos teixeiras e revistas óia. em tempo: é sempre bom lembrar que a revista veja, assim como todas as revistas brasileiras se encaixa também na lei que a torna isenta de qualquer imposto sobre impressão e sobre o papel onde ela imprime as suas falcatruas. confira na constituição brasileira. art. 150. sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à união, aos estados e aos municípios: VI. instituir impostos sobre: d. livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão.

sexta-feira

projeto sertão mineiro

está em cartaz no palácio das artes a video-instalação sertão: casa da imagem. a exposição é parte do resultado de um trabalho de fôlego, feito com paixão e profundidade raras por aqui, no país da batucada. a outra parte do trabalho é o documentário sertão mineiro, que está a venda em dvd. ambos foram dirigidos por álvaro andrade garcia que nos brinda com um transbordante acervo de filmes, entrevistas, imagens e informações a respeito de tudo aquilo que chamamos sertão. não é um mero retrato ufano e ultra/passado do sertão. o sertão todo mundo sabe, é aqui (www.sertoes.art.br) e agora. mesmo em belorizontem. vá ver.

terça-feira

o bom menino

não saberei desamarrar os sapatos e deixar que a cidade me morda os pés,
não me embebedarei sob as pontes, não cometerei faltas de estilo.
aceito este destino de camisas engomadas,
chego a tempo nos cinemas, cedo meu assento às senhoras.
o longo desregramento dos sentidos me vai mal, opto
pelo dentifrício e as toalhas. me vacino.
olha que pobre amante, incapaz de jogar-se numa fonte
para trazer-te um peixinho vermelho
sob a raiva de meganhas e babás.


poema de julio cortázar. olha aí o original:

el niño bueno

no sabré desatarme los zapatos y dejar que la ciudad me muerda los pies, no me emborracharé bajo los puentes, no cometeré faltas de estilo. acepto este destino de camisas planchadas, llego a tiempo a los cines, cedo mi asiento a las señoras. el largo desarreglo de los sentidos me va mal, opto por el dentífrico y las toallas. me vacuno. mira que pobre amante, incapaz de meterse en una fuente para traerte un pescadito rojo bajo la rabia de gendarmes y niñeras.

sábado

céu e inferno (mirabilibus ex auditis et visis)

ando lendo, entre outras coisas, a obra do peça-rara sueco emanuel swedenborg. nascido em 1688, morreu aos 84 anos. foi um dos maiores cientistas de todos os tempos, dominando áreas como física, química, filosofia, psicologia, política, anatomia, entre muitas outras. foi pesquisador pioneiro em várias delas. foi também poeta e literato. mas o que o tornou mais conhecido pelo mundo afora foi a sua obra teológica. é que, aos 56 anos, segundo contam, recebeu a visita de ninguém menos do que o TP (o Todopoderoso) que lhe deu a missão de revelar os segredos do céu, do inferno e os símbolos escondidos por detrás dos escritos bíblicos. palavras do próprio "Na mesma noite, o mundo dos Espíritos, do céu e do inferno, abriu-se convincentemente para mim, e aí encontrei muitas pessoas de meu conhecimento e de todas as condições. Desde então, diariamente o Senhor abria os olhos de meu Espírito para ver, perfeitamente desperto, o que se passava no outro mundo e para conversar, em plena consciência, com anjos e Espíritos".
daí por diante, escreveu uma vastíssima (mais de 40 títulos), obra que fez a cabeça de uma pequena ralé literária: kant, goethe, balzac, dostoievski, william blake, charles baudelaire, w. b. yeats, s. t. coleridge, ralph w. emerson, henry james, august strindberg, é elogiado por paul valéry, aclamado por jorge luís borges e tema de uma das obras principais do poeta polonês czesław miłosz: ziemia ulro/land of ulro. no brasil exerceu influência apenas sobre um único poeta, o mais original dos românticos brasileiros: sousândrade. ele aparece no começo do inferno de wall street.


1. (O GUESA, tendo atravessado as Antilhas, crê-se livre dos XEQUES e penetra em NEW-YORK-STOCK-EXCHANGE; a Voz dos desertos: )


Orfeu, Dante, Enéas, ao inferno
Desceram; o Inca há de subir...
Ogni sp'ranza lasciate,
che entrate
Swendenborg, há mundo porvir?
mas, assim como sousândrade, por aqui ele não é muito conhecido. quase não se fala nele. as poucas referências que andei encontrando: o livro de miłosz publicado pela unb na coleção poetas do mundo não mais, que, alías, foi a que me despertou interesse pela obra do sueco, o casamento do céu e do inferno de william blake (que tem uma excelente tradução no livro tudo que vive é sagrado da editora crisálida), que a meu ver é uma espécie de resposta ao livro de swedenborg de coelo et ejus mirabilibus et inferno, ex auditis et vidis, algumas passagens da ReVisão de Sousândrade (sempre sem muita coragem por parte dos organizadores e comentaristas) e o livro A loucura na razão pura de monique david-menard.

essa obra teológica deu origem à igreja swedenborgiana que, teologicamente, parece ter incentivado as incursões espirituais do francês allan kardec. segue aí o endereço do site brasileiro sobre a obra de swedenborg, organizado pela sua igreja brasileira (sede no rio de janeiro desde os anos 40!). vale a pena conferir: www.swedenborg.com.br

emanuel swedenborg

mais alto do que os outros, caminhava
aquele distante homem entre os homens;
chamava, apenas, por secretos nomes
os anjos. com sua visão mirava

o que não miram olhos terrenais:
a ardente geometria, o cristalino
edifício de Deus e o torvelino
nefando dos deleites infernais.

conhecia que a Glória e o Averno
estão na alma e suas mitologias;
sabia, tal como o grego, que os dias

do tempo são espelhos do Eterno.
em árido latim foi registrando
últimas coisas sem por quê nem quando.


o soneto é de jorge luís borges (swedenborges?). aí está o original:

más alto que los otros, caminaba/ aquel hombre lejano entre los hombres;/ apenas si llamaba por sus nombres/secretos a los ángeles. miraba/ lo que no ven los ojos terrenales:/ la ardiente geometría, el cristalino/edificio de Dios y el remolino/ sórdido de los goces infernales./ sabía que la Gloria y el Averno/ en tu alma están y sus mitologías;/ sabía como el griego, que los días/ del tiempo son espejos del Eterno./ en árido latín fue registrando/ últimas cosas sin por qué ni cuándo./

sexta-feira

olha só quem chegou na blogsfera...