quarta-feira

nei lopes e as áfricas em nós

se formos acompanhar os fenômenos que acontecem na cultura brasileira, pouco a pouco veremos o quanto somos pobres de conhecimento de nós mesmos. opostos costumam ser afirmação do mesmo. sobre a presença negra no brasil, eu chamaria de colonização passiva. colonização porque o alcance da implementação dos hábitos e costumes dos africanos foi muito maior do que supomos. passiva... bem, todo mundo sabe. foi enquanto eu pensava nisso que eu tive acesso a um mundo inteiramente novo que pra mim começa num excelente trabalho de nei lopes chamado “novo dicionário banto”. fiquei fascinado ao saber nele que boa parte do vocabulário brasileiro se formou a partir das línguas da áfrica austral, hoje oficialmente lusófonas.
a palavra “cara”, usada sem limites em todo o território nacional, no masculino (o cara), por exemplo, teria vindo de uma língua banto: “okala”, que significa homem. a etimologia dada pelos dicionários é um pouco diferente: houaiss (que inclusive aceitou muitas entradas no seu dicionário monumental) defende que teria vindo do latim, através do grego “kara”, significando rosto (a fonte sendo a mesma da palavra feminina).

agora, pesando os dois lados da balança, não seria mais óbvia a suposição de nei lopes? afinal, já temos tantas palavras bantas no nosso vocabulário corrente e oficial! samba, bunda, dendê, inhame, mulungu, zumbi, cochilo... e por aí vai.

só nos resta concluir que os nossos aplicados filólogos mergulham desesperados nos tratados de latim e grego, procuram saber sobre nossas origens indo-européias, acham fontes em tudo quanto é lugar, mas se esquecem de algo muito simples: o brasil é quase a áfrica.

nei lopes é sambista, parceiro de martinho da vila, autor de diversas canções populares. lançou recentemente um cd, coletânea de alguns dos seus maiores sucessos. de letra e música (para ouvi-lo, clique aqui). fez o grosso (porém caro, uma pena!), “enciclopédia brasileira da diáspora africana”. e é o autor de “bantos, malês e a identidade negra”, lá nos anos setenta. sobre este, ainda voltaremos a falar, que vale a pena. mas como eu já falei demais, por hoje, vou ficar por aqui.

ah, ele tem também um blogue: meu lote, visite, vale a pena..

Um comentário:

anderson almeida disse...

leozáfama, meu caro. como vai a vida? estou precisando visitá-lo.